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sábado, 25 de dezembro de 2021

MEU MELHOR PRESENTE

 


Jesus foi o melhor presente, que tive neste Natal.

Sem Ele que graça teria, festa, presente, afinal?

Tudo de melhor que tenho, Ele me deu com carinho.
Meus filhos, meu alimento, minha casa, o pão e o vinho.


Foi Dele, sim, que lembrei, à meia noite de ontem.
E vocês, como passaram? Me digam logo, me contem!
Ele entregou pra vocês, o carinho que mandei?
Derramou Suas mil bênçãos, do jeito que eu lhe falei?


Ele chegou nessa noite? Ficou no seu coração?
Eu pedi tudo isso a Ele, com a maior devoção.
Eu tenho sim a certeza, de que Jesus me atendeu
E a todos os meus amigos, um presente eu sei que deu.


Vocês verão que o Ano Novo, será sim, maravilhoso!
Do jeitinho que eu pedi, muito alegre e venturoso!
Jesus nos dá mesmo tudo, basta sabermos pedir.
Peçam tudo sempre a Ele, não esqueçam de repartir.


De verdade, está com a gente, estendendo a Sua mão.
Mesmo que não o vejamos, está no nosso coração!
A estrela mostra o caminho, no céu a sinalizar;
É só seguir essa estrela, para Jesus encontrar!

*** MÍRIAN WARTTUSCH ***

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

NATAL DO MENINO DEUS





Natal!
Jesus nasceu!
E o homem esqueceu!
O homem vive a se aturdir
Ele já não pode ouvir!…
O homem só quer ganhar
Ele já nem se lembra de partilhar!…
O homem quer intensamente viver
Ele já não pode ver!…
O homem não consegue falar
O medo o faz gaguejar!…
Natal!
Jesus nasceu!
Mas o homem não percebeu!
Jesus falou:
Homem,
Abra seu coração
E fique à espreita, com atenção.
Vim sob a forma de mendigo
E preciso urgente ser reconhecido.
Homem,
Abra seu ouvido
Ouça o clamor do povo sentido
Que grita a fome
Que mata e consome!…
Homem,
Abra a sua inteligência
Deixe que fale a sua consciência.
Eu sou a justiça, a verdade, o amor,
Misturo-me em tudo, na alegria e na dor.
Eu sou aquele jovem incompreendido
Que no vício, procura à vida dar sentido.
E sou a criança em formação
Que tantas vezes se perde na escuridão.
Homem,
Eu estou em tudo
Não me pise, deixe-me brotar…
É Natal, eu nasci!…
Vim, porque quero ajudar!…
Hoje é dia de amor
Pense homem, em seu grande valor…
Abra seus olhos,
Abra seus ouvidos…
E estará como eu o quero…
Comigo!…
Juntos, de mãos dadas pela vida,
Quanta coisa bonita a ser erguida…
Coisas que só o amor consegue construir
Quando o manto do egoísmo, você deixar cair!
Natal,
Jesus nasceu
E o novo homem
O recebeu!

Carmen Vervloet

domingo, 19 de dezembro de 2021

O SONHO DE MARIA - MÍRIAN WARTTUSCH




 O Sonho de Maria

Eu tive um sonho, José, que não pude decifrar…
Celebravam o Natal, sem nosso filho chamar.
Uma grande e linda festa, as pessoas preparavam,
Mas do nosso menininho, elas nem mesmo lembravam.

Decoraram e iluminaram, a casa, com grande pompa!
Gastaram muito dinheiro, fazendo uma enorme compra!
Engraçado, mas não vi, presentes pro nosso filho,
Entre todos os pacotes, enfeitados com fitilho…

Muitas bolas coloridas, na árvore penduradas,
- Coitadinho do pinheiro, teve a raiz arrancada! -
Um anjo, bem lá no alto – esse sim, gostei de ver,
Lembrei da anunciação, antes de Jesus nascer!

Ao trocarem os presentes – melhor mesmo que eu não visse
Nem falaram em Jesus, como se não existisse!
Celebrar aniversário de alguém que não está presente…
Você entende, José? Não é pra ficar doente?

Acho mesmo que meu filho, ficaria tão confuso…
Se aparecesse na festa, o achariam “um intruso”!
Não ser desejado, é triste, depois do grande calvário…
Dando a vida pelo irmão, num triste e cruel cenário!

Ainda bem que foi sonho… pois muito triste seria,
Ele voltar para a Terra, sentir que ninguém queria!
Mais um Natal, este, agora, em que eu iria dar à luz,
Sem saber se o povo entende, a grandeza de Jesus!

*** MÍRIAN WARTTUSCH ***

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

FALAVAM-ME DE AMOR - NATÁLIA CORREIA





 Falavam-me de Amor

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

– Natália Correia, em ‘O Dilúvio e a Pomba’.

domingo, 12 de dezembro de 2021

É NATAL - MARIA DA LUZ PEDROSA



 É Natal

É Natal e por esse Mundo,
Quantos Corações sem Esperança
Quantas Lágrimas Rolando
Num Rostinho de Criança

Quanta Criança Descalça,
Rotinha, Magra, Faminta,
Apelando para o Mundo
Na Rua Estende a Mãozita…

Ah se eu fosse Poderosa
Bem Mais do que um Simples Ser,
Não Haveria no Mundo
Uma Criança a Sofrer

Por isso meu Bom Jesus
Quando o Sino Badalar
Vou fazer uma Oração
Tua Imagem Adorar

Pedirei Paz para o Mundo
Muito Amor para os Pequeninos
Alegria para os que Choram
E Pão para os Pobrezinhos

E Ajudando os que Sofrem
A Cada um Dando a Mão
Passaremos um Natal
Com mais Paz no Coração.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

EU QUERIA SER PAI NATAL - LUÍSA DUCLA SOARES



Eu queria ser Pai Natal 

Eu queria ser Pai Natal
E ter carro com renas
Para pousar nos telhados
Mesmo ao pé das antenas.

Descia com o meu saco
Ao longo da chaminé,
Carregado de brinquedos
E roupas, pé ante pé.
Em cada casa trocava
Um sonho por um presente
Que profissão mais bonita
Fazer a gente contente!


Luísa Ducla Soares

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

FESTA MÁXIMA -- MÍRIAN WARTTUSCH

 




Que o Natal de cada um seja espetacular!
Que todas as luzes, brilhem intensamente no seu lar!
Que seja a grande tônica: família reunida com amor,
E uma oração ao alto, feita com o maior fervor!
Quando baterem à sua porta, saibam, eu lhes digo,
Serão Maria e José – não lhes neguem um abrigo.
E não esqueçam de uma caminha preparar,
Para Jesus-menino, que à meia-noite irá chegar.
Cantem uma cantiga ao redor do seu bercinho…
Preparem o seu coração para acolher o menininho.
Chuvas de bênçãos, cairão dos céus, como cascata,
Maná divino, chegará em luz, na hora exata,
Em forma de amigos que virão lhes abraçar!
Não faltarão em sua mesa muitas iguarias,
Nem vinhos, nem castanhas e outras especiarias.
E um Deus benevolente, de forma comovida,
Lhes proporcionará, mais este ano,
“comemorar o dom da vida!”


*** MÍRIAN WARTTUSCH ***

Biografia. AQUI

Com este poema inicio hoje , um ciclo de poemas de Natal. 
Aproveito para desejar a todos umas festas felizes, com saúde e com espirito de Natal.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

VALENTINE PENROSE


 NOITE

Retornará a noite de inverno
Para estender-me a teu lado.
As fachadas beberão austeras
O clarão de lua e sua luz
Será expulsa de nossos beijos e braços.

O quarto jaz solitário com as cortinas baixas
Jazes tu sozinha com os olhos baixos
O clarão de lua é o clarão de teus braços
A noite traz sua nave imperturbada.


Biografia AQUI

terça-feira, 23 de novembro de 2021

AUTA DE SOUZA






Noites amadas

Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua...

Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!


- Auta de Souza [Macaíba, Agosto de 1898], in “Horto”, 1900.


Biografia AQUI

terça-feira, 16 de novembro de 2021

ALEJANDRA SOLÓRZANO


AS AVES NÃO SE SUICIDAM

Em outro mundo possível
a Morte das aves sobrevém com aparência de gato.

Ao fio de um ramo.
A inanição, um deserto para sonhar insetos, larvas e sementes.

Colidir com a miragem de uma janela indiferente.
Perturbada por nevascas,
desordem de asas desfeitas à mercê da anunciação do inverno.
Cansadas de tempo
escondidas no interior de um tronco
até que sejam encontradas
por multidões de formigas e besouros.

Não importa qual o destino
a sua Morte
uma figura agraciada com suavidade de outono
espera para acompanhar
a sombra cristalina de seus corpos
até uma leve infinitude

Assim canta um pássaro para sua Linhagem
seguro da cidade adormecida
enquanto lhe escuto claro e distinto
apoiada em sigilo atrás da janela do quarto

Ouvir o augúrio de morte dos pássaros
o sentido trinado de sua entidade secreta
de seu canto existencial

Emudeço
Sem o desejo de haver falado
(qual aparência terá minha morte?)
Indago-me
sem Linhagem
sem possuir um canto
exatamente antes da madrugada.


Biografia AQUI


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

JUANA M. RAMOS



 RIO

Com riso estridente:
Rio
mergulho a memória
em suas águas
para regressar, outra.
Rio,
pai da árvore perseguida.
Eu choro sob sua sombra
haste em sua casca
a flecha envenenada.
Rio que soa
arrasta lapidada a integridade
naufraga a aflição em seu canal.
Transborda a vida,
confina com a morte,
passo certeiro até as sombras.
Ah desse rio!
Por mais que a busca
não encontre o mar.


Biografia AQUI

domingo, 31 de outubro de 2021

ELVIRA CARVALHO - DEIXA




 DEIXA

Deixa que a vida
não seja desespero
mas só vida.

Deixa que o mar
não seja túmulo
mas só mar.

Deixa que o sonho
não seja pesadelo
mas só sonho.

Exige
JUSTIÇA
PAZ
AMOR.
E vive...

Deixa
que a vida
seja vida,
e o mar,
mar
e o sonho,
sonho.
E luta
sofre
ama
e vive...

Essa vida
que não tens
mas anseias
conhecer. 

Elvira Carvalho.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

MARIANA IANELLI



Para amanhã



 Faz tua casa um fragmento de alma,

 cobre o teu pensamento.
 Vai, que estás em tempo de colher-te,
 um minuto para ser teu.
 Interrompe tuas regatas desbravadas,
 saídas das marinas solitárias,
 e retribui para terra a demonstração das tuas patas.
 Que não há segunda vez,
 um homem se esgalha da marga ou desiste.
 Para terra dá teus domingos desagradáveis e os risíveis.
 Fica lasso, pétala urdida no sol e na água.
 Vai, capaz de crescer.


- Mariana Ianelli, em "Duas chagas". São Paulo: Iluminuras, 2001.

sábado, 23 de outubro de 2021

ROSA ALICE BRANCO


Arte Poética

Gostaria de começar com uma pergunta

ou então com o simples facto

das rosas que daqui se vêem

entrarem no poema.


O que é então o poema?

um tecido de orifícios por onde entra o corpo

sentado à mesa e o modo

como as rosas me espreitam da janela?


Lá fora um jardineiro trabalha,

uma criança corre, uma gota de orvalho

acaba de evaporar-se e a humidade do ar

não entra no poema.


Amanhã estará murcha aquela rosa:

poderá escolher o epitáfio, a mão que a sepulte

e depois entrar num canteiro do poema,

enquanto um botão abre em verso livre

lá fora onde pulsa o rumor do dia.


O que são as rosas dentro e fora

do poema? Onde estou eu no verso em que

a criança se atirou ao chão cansada de correr?

E são horas do almoço do jardineiro!

Como se fosse indiferente a gota de orvalho

ter ou não entrado no poema!

 

Rosa Alice Branco

Soletrar o Dia Obra poética

Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2002


Biografia AQUI


domingo, 17 de outubro de 2021

ALAÍDE FOPPA



 ELA E A FORTUNA

Acaso é a flor
que se desfolha em sua mão,
o pássaro que foge
pela janela aberta,
o vento
que de repente infla suas velas,
porém sendo vento
ele passa e voa.
Ah a Fortuna
é para ela
o resplendor fugitivo
de uma manhã de sol,
de uma hora,
de um arco-íris
trêmulo e evanescente
que se estende
sobre um abismo deslumbrado…
A Fortuna é o que não se tem,
e é tão perfeita
tão rica e esplêndida
a sua imagem,
que empobrece
as pequenas alegrias
de todos os dias:
os frutos de sua horta
onde não crescem
laranjas de ouro,
as rosas
de seu modesto jardim,
que logo murcham,
o timbre claro das vozes
que por vezes estão próximas,
e até mesmo o riso
que se apaga em seus lábios
dissipado
por um invisível sopro.


Biografia AQUI

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

MARIA FIRMINA DOS REIS


Confissão



Embalde, te juro, quisera fugir-te, 
Negar-te os extremos de ardente paixão: 
Embalde, quisera dizer-te: - não sinto 
Prender-me à existência profunda afeição.
Embalde! é loucura. Se penso um momento, 
Se juro ofendida meus ferros quebrar: 
Rebelde meu peito, mais ama querer-te, 
Meu peito mais ama de amor delirar.

E as longas vigílias, - e os negros fantasmas, 
Que os sonhos povoam, se intento dormir, 
Se ameigam aos encantos, que tu me despertas, 
Se posso a teu lado venturas fruir.

E as dores no peito dormentes se acalmam. 
E eu julgo teu riso credor de um favor: 
E eu sinto minh'alma de novo exaltar-se, 
Rendida aos sublimes mistérios do amor.

Não digas, é crime - que amar-te não sei, 
Que fria te nego meus doces extremos... 
Eu amo adorar-te melhor do que a vida, 
melhor que a existência que tanto queremos.

Deixara eu de amar-te, quisera um momento, 
Que a vida eu deixara também de gozar! 
Delírio, ou loucura - sou cega em querer-te, 

Sou louca... perdida, só sei te adorar.


- Maria Firmina dos Reis, em "Cantos à beira mar". São Luís do Maranhão, 1871, p. 79-80.



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domingo, 3 de outubro de 2021

CLAUDIA VILA MOLINA


ESTUDOS DO PASSADO

Percorro o círculo das primeiras coisas, meu corpo é um lapso de tua mente
Viajas até o passado
Onde as sombras espalham murmúrios e ouvimos o derretimento
dos objetos como palavras pausadas no filme
Choras antes que o relógio cante
Meu cabelo cresce em direção às últimas telas e dói em ti esse latejo
Domado diante das paisagens
As pessoas se detêm diante disso
E seguem
Porém a rota mostra peregrinos, a luz se esconde em nosso disfarce
Acaso é a expectativa?
Essa voz que cruza imperfeita a caminho dos pântanos
E naquela encosta
Riachos de água descem da rocha, mas o espaço se mostra
Solitário como teus filhos
Nos custa esperar
Nos custa seguir aceitando os eventos
Isso é a paz? Esta é uma palavra que não pronuncio?


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domingo, 26 de setembro de 2021

MYRIAM FRAGA


Semeadura



O limite da luz
é o espaço do salto.

É a casa do sonho,
o caminho de volta,
extravio ou derrota.

O pássaro é este silêncio
cortando como faca.

É a bicada no ventre:
semeadura de mel
nos meus campos molhados.

Oh! eterno seja o passo
minha pele no teu aço,
ó pássaro, pássaro.

Senhor do sol me arrebata,
ó pássaro,
tuas garras como arado
revolvendo meus pedaços.

Meu corpo de sementeira
na raiz do teu abraço.

Um arco-íris de espigas
no meu seio, meu regaço
como um odre

na esperança de teu vinho,
meu canto no teu cansaço
ó pássaro, pássaro.




- Myriam Fraga, em "A lenda do pássaro que roubou o fogo". Salvador: Editora Macunaíma, 1983


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domingo, 19 de setembro de 2021

CLAUDIA MEYER


 A solidão se respira à beira do vazio,

o abandono floresce à margem da trilha clandestina.
Sem paz, gozo, sossego ou sonho vão,
mas sim o frio que brota na clave de sol em meu universo,
o frio que agride esse corte da cabeça aos pés.

A vida desliza em minha caverna de incertezas.
A respiração anseia por noites neófitas e por voltar a sonhar.
A margem não percebe quando a dor é uma órbita.
Não importa a queda quando o fundo é ficção,
quando em desgosto se encontra todo o prazenteiro abismo.


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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

AMÉLIA VEIGA

 

África breve
                                                                      a Alice

África breve,
Quebrar de onda,
Sussurro de vento,
Estrela cadente,
Roçar de asa,
Mágico momento
Na eternidade do meu tempo,
Chão e casa ...
Leite e mel,
A terra prometida,
Espaço doce-amargo
No universo vazio
Da minha vida...

Apodreceram as sementes
Do amor que plantei
Na raiva lavrada do teu ventre...
Não era o lugar e nem a estação
Para a colheita apetecida ...
Era o trágico momento
Da sangrenta vitória
Do ódio sobre a vida,
Da dramática contradição
De ser e não ser da tua gente
E da renúncia assumida
Nas marés da História...

África breve,
Redimida,
Transcendida
Nas lágrimas da memória...

 


biografia AQUI 

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

VIVIANE MOSÉ


Toda palavra 


Procuro uma palavra que me salve
Pode ser uma palavra verbo
Uma palavra vespa, uma palavra casta.
Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.
Ou palavra muda,
molhada de suor no esforço da terra não lavrada.
Não ligo se ela vem suja, mal lavada.
Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.
Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei
e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.
Penso em quanta fadiga me dava
o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.
Hoje imploro uma fala escrita,
não pode ser cantada.
Preciso de uma palavra letra
grifada grafia no papel.
Uma palavra como um porto
um mar um prado
um campo minado um contorno
carrossel cavalo pente quebrado véu
 mariscos muralhas manivelas navalhas.
Eu preciso do escarcéu soletrado
Preciso daquilo que havia negado
E mesmo tendo medo de algumas palavras
preciso da palavra medo como preciso da palavra morte
que é uma palavra triste.
Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.  
Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.
Toda palavra é bem dita e bem vinda.



- Viviane Mosé, em "Toda palavra".  Rio de Janeiro RJ: Editora Record, 2008.


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domingo, 5 de setembro de 2021

NADIA ANJUMAN

 

HISTÓRIAS TRÁGICAS

Oh histórias trágicas
Encontraram uma morada em nossos corações.
Esses olhos tristes, essas bochechas fundas e amarelas
São as marcas sombrias de tua presença
Oh galhos da dor
Cem primaveras e outonos indo e vindo
Brotos murchos com corações dilacerados
Cem bloqueios e cem caravanas passam
O Faraó morre e a história de Nimrod termina
Ainda que estejas jovem e fresco
Recém saído do útero do jardim

Oh miséria ardente
Deixe a expansão de nossos corações
Não são as únicas coisas pelas quais vale a pena queimar
Por uma única vez, passe na casa de outro

Oh histórias trágicas
Sua companhia nos oprime
Se não buscam uma nova casa, devem ter cuidado
Amanhã vamos deixar as tristes ruínas da vida
E vocês ficarão miseráveis e descobertas
No limbo do tempo
Sem qualquer morada


Nádia Anjuman uma promissora poeta afegã, foi assassinada pelo seu marido aos 25 anos de idade, apenas por querer ir visitar a irmã, contra a vontade dele.

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terça-feira, 31 de agosto de 2021

MARIA HELENA BOTA GUERREIRO




DO MEU CANCIONEIRO


Ó meu barquinho veleiro
Onde levas meu sonhar?
Amor é mar traiçoeiro
E eu tenho medo do mar!

Eu julguei ver nos teus olhos
Um lago de mansas águas.
Mas foram um mar de abrolhos
Onde afoguei minhas mágoas.

Cansada, mas não vencida
Apesar de há muito andar
Sozinha no mar da vida,
contra a maré a remar!

Porque será que és medonho,
Mar, se em ti ruge a procela?
Tempestades tem a vida,
e ninguém tem medo dela.

Mar, apesar do perigo
Que nos mata  quando queres,
vale mais lutar contigo
Que aturar certas mulheres!


Maria Helena Bota Guerreiro


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

IGNEZ SABINO PINHO MAIA



Flores murchas

          (à Mariana de Almeida)

Como as flores que vivem um só dia
Ao sopro do calor da luz das salas
Frágeis desbotam as robustas galas
Perdendo bela cor que as revestia...

Assim exausta aos poucos cessa a vida
Tudo cede ao poder do permanente
Tufão, destruidor que, de repente,
Prostra a seiva do sangue amortecida.

Pois tudo que nasceu há de render-se
A essa lei fatal intransigente
Que destrói e corrompe consciente

A vida, o ar e a flor que, ao desfazer-se,
Pendendo sobre a haste agonizante,
Bem viu que a vida dura um breve instante.



- Ignez Sabino, em "Rosas pálidas: poesias". 1886.


Biografia AQUI

domingo, 15 de agosto de 2021

ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO


Espaço-tempo
Quero-te mesmo, amor, na ausência ou na presença,
com rumores de sombra, alarde ou desafios.
―Dormir num chão de luar à sombra de roseiras
ou sob os pirisais na baixada dos rios...

Assim te amo e te sei amando dia-a-dia,
acordada ou dormindo o germinal segredo.
E te abraço sem ter teu corpo ao meu, beijando
a saudade sem ser de quem se tem sem medo.

Amo-te mesmo, amor, no madrigal do tempo,
derrubando androceus e gineceus se amando
nas pálpebras do estio que o sono não acorda.

No teu dorso eu descanso a caminhada enorme
que fiz pra te encontrar ― lábios ardendo em busca
da tua noite azul onde minh'alma dorme.

Amo-te mesmo, amor. Se me vens ou te vais.
Sinto-te à flor da pele e à superfície da água
que dessedenta o bem que nos lava o mal.

Amo-te e não sei quem és ― teu nome nem origem.
Só sei que és homem são e me sabes mulher.
Que beleza este amor sem pranto nem vertigem,
sem princípio nem fim, nem dimensão sequer!


- Adalcinda Camarão, em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995.


Biografia AQUI

terça-feira, 3 de agosto de 2021

EULÁLIA MARIA RADTKE



As elegias

(1)

É meio dia em minha
vida,
meu sonho
meu sol,
minha dança alucinada
no horto.

Para quem fui,
gotas ficaram pendentes
nas espigas.
Para quem sou,
canto humilde e ave
partida.

É meio dia em minha
vida,
este relógio  de hastes
singulares e plurais
ceifando o tempo,
trazendo à luz
banquetes fartos e limpos
- irreais




- Eulália Maria Radtke, em "O sermão das sete palavras". Florianópolis SC: FCC Edições; Brasília: Thesaurus, 1985.

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