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Sophia de Mello Breyner Andresen
Mulheres à beira-mar
Confundido os seus cabelos com os cabelos
do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e
tão denso em plena liberdade.
Lançam os braços pela praia fora e a brancura
dos seus pulsos penetra nas espumas.
Passam aves de asas agudas e a curva dos seus
olhos prolonga o interminável rastro no céu
branco.
Com a boca colada ao horizonte aspiram longa
mente a virgindade de um mundo que nasceu.
O extremo dos seus dedos toca o cimo de
delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.
E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de
ser tão verde.
Sophia
Sophia de Mello Breyner Andresen
(1919-2004)
Nasceu no Porto, frequentou Filologia Clássica em Lisboa e publicou a sua primeira recolha poética, Poesia, em 1947.
A sua escrita, tensa e contida, constrói-se em volta do mar, quer do mar do destino português, quer do mar da Grécia Clássica, a cuja mitologia, Sophia foi buscar muito do material sobre o qual levantou uma obra ímpar, quer na poesia contemporânea portuguesa, quer na literatura para a infância.
Ao carácter excepcional da sua obra acresce ainda a grande exigência moral que a poetisa sempre revelou e que a tornou numa figura cívica incontornável no Portugal anterior e posterior à instauração da democracia.
(texto de José Fanha e José Jorge Letria)