DECLARAÇÃO
Nasci
No ventre desencantado da serpente
No leito guarnecido das sementes
Cresci
Nos trapos sujos do desespero da rocha
Encaracolada e desfeita pelo projecto
do cão
Multipliquei-me
Na corrente do desequilíbrio cívico dos
sinistrados
Como uma espécie de insecto que
pernoita no zumbido.
Da argola e do conto
Morri sem uma bela insígnia
distinguindo minhas intimidades
Sem uma coroa bonita ao redor do meu sonho
Carla Queiroz
Biografia
Pouco descobri na net além disto: Carla Queiroz, nasceu no Kwanza-Sul em 1968 Angola, e foi vencedora do Prêmio António Jacinto/ 2001.
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domingo, 24 de julho de 2022
segunda-feira, 18 de julho de 2022
MARIZE CASTRO
Iluminada por oráculos
alimento anjos com asas quebradas.
alimento anjos com asas quebradas.
Não é de vendaval que eu preciso
mas da língua do amor guardada à beira-mar.
mas da língua do amor guardada à beira-mar.
Não entendo de círios
mas de verões e sargaços bailarinos.
mas de verões e sargaços bailarinos.
Acolhida pela província,
arrisco-me a enlaçar orquídeas em árvores.
arrisco-me a enlaçar orquídeas em árvores.
Sempre sofri.
Sempre tive febre.
Sempre estive inteira em todos os infernos.
Nunca quis ser abandonada.
Mas aprendi a perder.
Sempre tive febre.
Sempre estive inteira em todos os infernos.
Nunca quis ser abandonada.
Mas aprendi a perder.
O naufrágio me ensinou a ternura dos afogados.
Biografia AQUI
segunda-feira, 11 de julho de 2022
NATÁLIA CORREIA
Queixa das almas jovens censuradas
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"
Natália Correia já é repetente neste espaço pelo que a sua biografia já foi publicada
sábado, 9 de julho de 2022
SYLVIA PLATH - PAPOULAS EM JULHO
PAPOULAS EM JULHO Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno, Vocês vibram. É impossível tocá-las. E me fatiga ficar a olhá-las Uma boca sangrando. Há vapores que não posso tocar. Se eu pudesse sangrar, ou dormir! Ou que seus licores filtrem-se em mim, nessa cápsula de vidro, Sylvia Plath AQUI |
segunda-feira, 4 de julho de 2022
MANUELA MARGARIDO
S. Tomé e Príncipe
ALTO COMO O SILÊNCIO
A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.
No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.
Oh, a tarde clara
deste fim de Inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande baba negra
e mortal das cobras
Manuela Margarido
Biografia AQUI
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