Foto de Laércio Miranda
ROÇA
ROÇA
A noite sangra
no mato,
ferida por uma aguda lança
de cólera.
A madrugada sangra
de outro modo:
é o sino da alvorada
que desperta o terreiro.
E o feito que começa
a destinar as tarefas
para mais um dia de trabalho.
A manhã sangra ainda:
salsas a bananeira
com um machim de prata;
capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o coco
com um machim de esperança;
cortas o cacho de andim
corn um machim de certeza.
E à tarde regressas
a senzala;
a noite esculpe
os seus lábios frios
na tua pele
E sonhas na distância
uma vida mais livre,
que o teu gesto
há-de realizar.Manuela Margarido
Biografia
Poetisa são-tomense, Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido nasceu em 1925, na ilha do Príncipe, e faleceu a 10 de março de 2007, em Lisboa. Tendo, desde muito cedo, abraçado a causa da independência e do combate anti-colonialista, esteve exilada em Paris, onde se interessou por várias áreas de estudo, como sociologia, ciências da religião e cinema, que estudou na Universidade de Sorbonne.
Chegando a ocupar o cargo de embaixadora do seu país em Bruxelas, viveu grande parte da sua vida em Lisboa, onde se dedicou à divulgação da cultura são-tomense.
Empenhada na luta pela independência de São Tomé e Príncipe, a sua poesia, de uma maneira geral, reflete e denuncia a repressão colonialista portuguesa, assim como a vida pobre dos seus conterrâneos nas roças do café e do cacau.
Fonte
infopédia