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sábado, 24 de outubro de 2020

MANUELA AMARAL





                                      I
Sexo-Cama
Fui ordinária
requintada
tímida
Misturei poesia com vários palavrões
Gritei
Uivei
Gemi
Rasguei almofadas e lençóis

Fui carnaval de amor
no circo de uma cama.
                           II

NASCI-TE

 

No meu ventre de mulher cresceu teu feto

e foi a minha boca que te deu palavras

e silêncios para tu gritares
Dos meus braços multipliquei teus braços
e dei distâncias para tu voares
Dei-te tempos-de-nada
medidos de coragem
E foste. E és.


Manuela Amaral


Biografia AQUI

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

BRUNA BEBER



As avós e as tias



durante toda minha caminhada
pela bola que uns chamam
de terra e outros de água
ou como carinhosamente
já apelidaram um amigo
balofo no colégio
só consegui
tomar posse
de uma certeza
e por isso gostaria
de dividi-la passem
para os seus filhos:
não há
sequer 
um ser 
humano que caminhe
pela bola – há quem
a diga achatada –
que não tenha
não teve
ou nunca terá 
uma 
toalha 
bordada
é importante 
que seus filhos
passem pros deles
essa verdade
mas se não tiverem
filhos netos tudo bem
sempre terão toalhas
bordadas.



- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.


Biografia AQUI


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

LOUISE GLUCK - NOBEL DA LITERATURA 2020

 

O lírio prateado


As noites ficaram frias de novo, como as noites

de começo de primavera, e quietas de novo. Será

que a conversa te incomoda? Estamos

sozinhos agora; não temos razão para silêncio.

 

Vês, sobre o jardim — a lua cheia nasce.

Não verei a próxima lua cheia.

 

Na primavera, quando a lua nascia, significava

que o tempo era infinito. Anêmonas

abriam e fechavam, as sementes

em cachos caíam dos bordos em pálidas lufadas.

Branco sobre branco, a lua nascia sobre o vidoeiro.

E no arco em que a árvore se divide,

folhas dos primeiros narcisos, ao luar

prata-verde-claras.

 

Juntos, chegamos perto demais do fim para agora

temermos o fim. Nessas noites, não estou nem mesmo certa

de que sei o que significa o fim. E tu, que estiveste

com um homem —

depois dos primeiros gritos,

não faz a alegria, como o medo, barulho algum?

(Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins)





Biografia  AQUI

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

CRISTIANE NEDER




A  PEDRA 
 
A pedra fala calada,
bruta como um palavrão mal criado,
faz rugas onde a chuva encosta
e desbota-se de exatidão
pelos ruídos por onde
penetra o pensamento humano através do vento.
A pedra não sabe receber o poeta,
o poeta é que a recebe na mão,
e de poeta em poeta
o mundo virou um pedregulho 
de sintomas novos.
Vamos dar analgésico
para as pedras aguentarem 
o peso dos homens quando forem pisadas,
pois todo caminho tem pedra
no meio da estrada,
e de pedra em pedra
nossa história está virando
um Muro das Lamentações.



Biografia AQUI

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

DEUSA d'ÁFRICA


 A VIDA QUE NÃO TIVE


Um abraço
Um apreço
Um vaso
Para jogar a semente e irrigá-la
E clientes para fornecer-lhes
A água vinda das minhas pupilas.

Um afecto
Como um insecto
Cujo pai ensina-o a voar.

Um punhal
Para encravar
Em minhas entranhas,
A liberdade, 
E livrar-me da colonização da vida.


Deusa d’África, in “A Voz das Minhas Entranhas”, página 48, edição Deusa d’África / Grupo Cultural Xitende / Ciedima, Lda., Maputo, 2014.


Biografia  AQUI

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

GLÓRIA DE SANT'ANNA


Poema Agreste

Não sei por que buscas palavras longas
para as coisas breves que nos assombram.

Não sei por que teces teias enormes
para as incertezas que nos envolvem.

Não sei por que insistes. Não sei porque insistes
em prender meus passos nesse limite.

Glória de Sant'Anna, in 'Poemas do Tempo Agreste'

Biografia   Aqui