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quarta-feira, 8 de maio de 2013

ALICE VIEIRA.

A CONCHA PERFEITA DAS TUAS MÃOS

sei um jeito de te fazer ficar
murmuravas nas manhãs em que nascíamos
ávidos de nós
e éramos tão novos
e faltávamos às aulas

posso ter esquecido admito muita coisa
caminhos promessas lugares a cor
da saia que vestia no dia em que não voltei
muita coisa admito menos
a concha perfeita das tuas mãos sobre o meu peito
o cheiro das laranjeiras as cartas
em papel tão adolescente e azul
o esplendor de junho à mesa familiar
os espelhos garantindo-nos um lugar único na casa

posso ter esquecido admito muita coisa
menos os nossos corpos simultâneos
às portas do amor

no arco da minha pele que humidamente
se abria ao lume da tua língua

nessas manhãs em que jurámos
não morrer nunca


In “Dois Corpos Tombando na Água”
Editorial Caminho – 2007  


AQUI encontrarão a biografia desta extraordinária escritora cujo talento se expande pela prosa e pela poesia em muitos livros publicados. Imperdoável da minha parte a sua não inclusão até hoje neste espaço.