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terça-feira, 28 de julho de 2009
HELGA MOREIRA
Apago cigarro após cigarro,
a chávena ainda quente do café,
e o corpo todo à escuta.
No sono entrevi o teu olhar e
ao visitar-te, excessivamente te beijei.
Entre temor, entre comas, os lugares
que habito são apenas pontos
de esquecimento e fuga.
Tenho medo, por vezes, de estar em casa,
outras, de sair, não sei o que me persegue
ou persigo, movo-me apenas
por entre odores, escombros, e aflita
com perigos indefiníveis.
Os dias todos assim, 1996,
Biografia
Nasceu na Guarda. Fez estudos de Física e começou a publicar poesia nos anos 80. Depois de uma pausa de 11 anos, volta a publicar com alguma regularidade a partir da segunda metade dos anos 90, propondo uma poesia muito pessoal onde se entrelaçam, com registos do quotidiano, a angústia, a emoção e o desejo.
Obras da autora
1978 Cantos do Silêncio
1980 Fogo Suspenso
1983 Quem não vier do sul
1985 Aromas
1996 Os Dias Todos Assim
2001 Um Fio de Noite
2002 Desrazões
2003 Tumulto
2006 Agora que falamos de morrer
fontes:
Wikipédia
O livro "Cem poemas portugueses"
http://www.arlindo-correia.com/141202.html
PARA OS AMIGOS QUE POR AQUI PASSEM. VOU ESTAR AUSENTE, JÁ QUE O PC VAI HOJE PARA A OFICINA, SEM DATA MARCADA PARA O REGRESSO.
sábado, 18 de julho de 2009
DINA SALÚSTIO
foto DAQUI
ÉRAMOS TU E EU
Éramos eu e tu
Dentro de mim
Centenas de fantasmas compunham o espectáculo
E o medo
Todo o medo do mundo em câmara lenta nos meus olhos.
Mãos agarradas
Pulsos acariciados
Um afago nas faces.
Éramos tu e eu
Dentro de nós
Suores inundavam os olhos
Alagavam lençóis
Corriam para o mar.
As unhas revoltam-se e ferem a carne que as abriga.
Éramos tu e eu
Dentro de nós.
As contracções cada vez mais rápidas
O descontrolo
A emoção
A ciência atenta
O oxigénio
A mão amiga
De repente a grande urgência
A Hora
A Violência
Éramos nós libertando-nos de nós.
É nossa a dor.
São nossos o sangue e as águas
O grito é nosso
A vida é tua
O filho é meu.
Os lábios esquecem o riso
Os olhos a luz
O corpo a dor.
A exaustão total
O correr do pano
O fim do parto.
Biografia
Dina Salústio (pseudónimo de Bernardina Oliveira), nasceu em 1941, em Santo Antão, Cabo Verde.
Foi professora, assistente social e jornalista, tendo trabalhado em Cabo Verde, assim como em Portugal e em Angola.
Foi produtora de rádio, dirigindo um programa radiofónico dedicado a assuntos educativos: Gentes, Ideias, Cultura.
Trabalhou no Ministério dos Negócios Estrangeiros e desempemha, actualmente (2005) o cargo de Conselheira do Ministro da Cultura, em Cabo Verde.
É membro e foi uma das fundadoras da Associação dos Escritores Cabo-verdianos. É igualmente sócia fundadora das revistas: Mudjer e Ponto & Vírgula; colaborando noutros periódicos: Fragmentos, A Tribuna, Voz di Povo, Montanha, Pré Textos, Revue Noir, A Semana onde se encontra grande parte de seus textos. Tem, pois, colaboração (em prosa e poesia) na imprensa caboverdiana e no estrangeiro.
Em 1994 foi-lhe atribuído o Prémio de Literatura Infantil de Cabo Verde – no mesmo ano em que publicava colectânea de contos, Mornas Eram as Noites – e em 1999 ganhou o 3º Prémio de Literatura Infantil de Cabo Verde, dos PALOP.
Estreou-se no romance com A Louca de Serrano (1998), sendo este considerado o primeiro romance feminino na literatura caboverdiana.
Participou na antologia de poesia cabo-verdiana org. por J. L. H. Almada: Mirabilis de Veias ao Sol (1991) e na colectânea Cabo Verde: Insularidade e Literatura (Paris, Éditions Karthala, 1998), tanto na versão portuguesa como na francesa.
Biografia DAQUI
quarta-feira, 8 de julho de 2009
ALDA DO ESPIRITO SANTO OU ALDA GRAÇA
foto da net
Avó Mariana
Avó Mariana, lavadeira
dos brancos lá da Fazenda
chegou um dia de terras distantes
com seu pedaço de pano na cintura
e ficou.
Ficou a Avó Mariana
lavando, lavando, lá na roça
pitando seu jessu1
à porta da sanzala
lembrando a viagem dos seus campos de sisal.
Num dia sinistro
p'ra ilha distante
onde a faina de trabalho
apagou a lembrança
dos bois, nos óbitos
lá no Cubal distante.
Avó Mariana chegou
e sentou-se à porta da sanzala2
e pitou seu jessu1
lavando, lavando
numa barreira de silêncio.
Os anos escoaram
lá na terra calcinante.
- "Avó Mariana, Avó Mariana
é a hora de partir.
Vai rever teus campos extensos
de plantações sem fim".
- "Onde é terra di gente?
Velha vem, não volta mais...
Cheguei de muito longe,
anos e mais anos aqui no terreiro...
Velha tonta, já não tem terra
Vou ficar aqui, minino tonto".
Avó Mariana, pitando seu jessu1
na soleira do seu beco escuro,
conta Avó Velhinha
teu fado inglório.
Viver, vegetar
à sombra dum terreiro
tu mesmo Avó minha
não contarás a tua história.
Avó Mariana, velhinha minha,
pitando seu jessu1
na soleira da senzala
nada dirás do teu destino...
Porque cruzaste mares, avó velhinha,
e te quedaste sozinha
pitando teu jessu1?
(É nosso o solo sagrado da terra)
Biografia
Nascida a 30 de Abril de 1926 na cidade de São Tomé, Alda Graça do Espírito Santo, combatente da luta pela independência nacional, instruiu a nova geração pós independência, e pelas suas mãos de poetisa nasceram versos e rimas que sustentam o orgulho da República Democrática fundada em 1975. Uma referência nacional, que rejeita vanglórias e com humildade continua a batalhar pela conquista do progresso do país soberano.
Desde a juventude que Alda Graça do Espírito Santo vive na mesma residência na Chácara, arredores da capital São Tomé. Segundo ela só deixa aquele lugar quando for chamada para o eterno descanso no cemitério do alto São João.
Aos 83 anos, continua lúcida, inteligente, um verdadeiro depósito vivo de saber que continua alimentar gerações de são-tomenses. Foi professor da geração de são-tomenses, que gritou pela independência nacional.
Criou a primeira geração de jornalistas do país, e como poetisa imortalizou o massacre de 1953 no poema TRINDADE, que desde a independência nacional é recitado todos os anos e de forma arrepiante por uma voz feminina.
A poder poético de Alda graça está presente todos os dias, e em todos os momentos de São Tomé e Príncipe. O grito pela independência nacional, a unidade do povo no coro da esperança, é reflectido na letra do hino nacional de que ela é autora.
Membro do Governo de transição, como Ministra da Educação, Alda do Espírito Santo, foi também ministra da informação e cultura. Fez dois mandatos como Presidente da Assembleia Nacional Popular.
Criou a União dos Escritores e Artistas São-tomenses, onde continua a trabalhar na criação de novos valores para cultura literária são-tomense.
“Mataram o rio da minha cidade”, é uma obra de Alda do Espírito Santo, que desperta a atenção dos são-tomenses exactamente para a recuperação da capital e do rio que deu nome a toda a região de Água Grande.
Dados biográficos da autoria de Abel Veiga
quinta-feira, 2 de julho de 2009
EUGÉNIA TABOSA
No passeio junto à praia,
do outro lado da estrada
duas mulheres de negro
caminham apressadas,
o vento fá-las dobrar
as saias parecem asas
debatendo-se no ar.
Do outro lado da estrada
no passeio junto ao mar
duas mulheres gemendo
parecem quase voar,
na cabeça lenços pretos
encobrem-lhes o olhar,
as mãos apertam o peito
pra o coração não estalar.
O vento uiva mais alto
trazendo gritos da praia
um espanto para lá do mar,
elas correm, como correm
nem a água as faz parar
procuram cegas os barcos
e nada há que encontrar.
Só então abrem os braços
erguendo o punho ao ar
gritam de revolta e dor,
soltam seu ódio, seu mal,
chamam, choram de amor,
e as lágrimas abrem sulcos
naqueles rostos desfeitos.
Desceu um silêncio à praia
era a morte a passear
por entre gaivotas feridas
todas de negro vestidas
olhos presos no mar.
Eugénia Tabosa
Biografia
Nasceu em Lisboa, e viveu cruzando o Atlântico, entre Lisboa e S. Paulo, até que em 2005 se radicou em S. Paulo .
Mulher de múltiplos talentos, é licenciada em Pintura pela Universidade de Belas Artes de Lisboa.
Professora de Educação Visual por mais de um quarto de século, trabalha também em Cerâmica e Azulejaria, e ainda restauro arqueológico.
A leitura e a escrita são paixões antigas, e AQUI pode encontrar algumas das suas obras em pintura, desenho e cerâmica.
(biografia apresentada na página da escritora AQUI