reedição
Aqui me encontrarás
Aqui me encontrarás
dormindo-me silêncio
no fumo que os telhados
perfumam de pinheiro,
aqui me encontrarás
e a lua no meu ombro
vermelha do ardor
meu sangue companheiro.
Eco que eu sou
na morte de uma era
aninham os meus braços
outonos de fulgores
e os pássaros da noite
em seus olhos de espera
escutam o arfar
do perfume das cores.
Aqui me encontrarás
floresta de vermelho
segredo de vulcão
zumbindo-me no peito
aqui me encontrarás
quente fornalha de espelho
brasa amarela de vida
sol da cor com que me enfeito.
Minha forma uma montanha
de seios que a lua aquece
meus braços caminhos de água
por toda a serra a descer
recorta-me a tarde morta
perfil que o céu enlouquece
rumor remanso de frágua
brilho lunar a correr.
Prata de frio entornada,
carreiro meu sangue d´albas
esplendor de muro húmido
em leques de fetos verdes
langores de musgo veludo
em sombra de plantas malvas
em ti me sei e me escuto,
em ti me escorro e me bebo.
Aqui me encontrarás tão de longe navegada
afago de ares anjos
no oceano de uma asa
nesta terra em que me mostro
aqui de além coroada
sou água que a chuva traz
à sua primeira casa.
Salette Tavares
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Salette Tavares nasceu em 1922, em Moçambique, então uma colónia portuguesa, na cidade de Lourenço Marques (hoje em dia Maputo). Aos onze anos mudou-se com a sua família para Sintra, Portugal, e viveu em Lisboa até 1994, ano em que morreu aos 72 anos.
Fez o curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Universidade de Lisboa, licenciando-se em 1948 com a tese Aproximação ao pensamento concreto de Gabriel Marcel, que seria publicada nesse mesmo ano, em Lisboa. Traduziu os Pensamentos, de Pascal, e As maravilhas do cinema, de Georges Sadoul. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer uma especialização em Estética, em França e na Itália, onde trabalhou com Mikel Dufrenne, Étienne Souriau e Gillo Dorfles. Em 1964, a seguir à publicação do primeiro Caderno da Poesia Experimental, faz uma visita a Nova Iorque onde visita vários museus na companhia do seu amigo poeta Frank O'Hara, tendo estudado arquitectura moderna com Philip Johnson. Durante o auge da produção concretista portuguesa, em 1965, lecciona Estética na Sociedade Nacional de Belas Artes, e publica as lições correspondentes, sem ilustrações, na revista Brotéria. Um livro com essas mesmas lições, mas completas, intitulado “A dialética das formas”, estava composto em 1972, mas nunca foi publicado. Em 1979, teve uma retrospectiva da sua poesia visual na Galeria Quadrum, numa exposição chamada “Brincar”.
Biografia retirada da net
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quinta-feira, 29 de agosto de 2019
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
LAURA LIUZZI
Não há cortina
para esconder os músicos
nem mesmo a música
se esconde nos instrumentos.
para esconder os músicos
nem mesmo a música
se esconde nos instrumentos.
Está tudo aos olhos da platéia
porque a sinfonia não se pode ver
senão nos gestos do maestro.
porque a sinfonia não se pode ver
senão nos gestos do maestro.
À minha frente, antes do primeiro
comando, pode estar o violoncelista
em terno preto, como muitos ouvintes.
comando, pode estar o violoncelista
em terno preto, como muitos ouvintes.
Quando se sentam os músicos
cada um em seu tempo afina
seu instrumento e acerta a folha
da primeira sinfonia: confusa algaravia.
cada um em seu tempo afina
seu instrumento e acerta a folha
da primeira sinfonia: confusa algaravia.
Então vem o regente
sob uma saraivada de palmas
com sua vara de condão.
sob uma saraivada de palmas
com sua vara de condão.
Os músicos ajeitam a coluna
alisam os traços do rosto
e encaram o maestro
alisam os traços do rosto
e encaram o maestro
que, com dois olhos apenas
cruza com todos que têm nele a mira
buscando a confirmação
de que pode começar.
cruza com todos que têm nele a mira
buscando a confirmação
de que pode começar.
Tão logo soerga
a batuta e soe
o primeiro acorde
ouve-se, milagrosamente, o silêncio.
Laura Liuzzi
Biografia AQUI
a batuta e soe
o primeiro acorde
ouve-se, milagrosamente, o silêncio.
Laura Liuzzi
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