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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

AMÉLIA VEIGA - ANGOLA

 

Angola

não nasci do teu ventre
mas amei-te em cada primavera
com a exuberância de semente…

não nasci do teu ventre
mas foi em ti que sepultei
as minhas saudades
e sofri as tempestades
de flor transplantada
prematuramente…

não nasci do teu ventre
mas bebi o teu sortilégio
em noites de poesia
transparente…

não nasci do teu ventre
mas foi à tua sombra
que fecundei rebentos novos
e abri os braços
para um destino transcendente…

angola,
não eras terra do meu berço
mas és terra do meu ventre!



Biografia  AQUI






domingo, 19 de fevereiro de 2023

CECÍLIA MEIRELES - CARNAVAL

 




CARNAVAL

Com os teus dedos feitos de tempo silencioso,

Modela a minha mascara, modela-a…
E veste-me essas roupas encantadas
Com que tu mesmo te escondes, ó oculto!

Põe nos meus lábios essa voz
Que só constrói perguntas,
E, à aparência com que me encobrires,
Dá um nome rápido, que se possa logo esquecer…

Eu irei pelas tuas ruas,
Cantando e dançando…
E lá, onde ninguém se reconhece,
Ninguém saberá quem sou,
À luz do teu Carnaval…

Modela a minha mascara!
Veste-me essas roupas!

Mas deixa na minha voz a eternidade
Dos teus dedos de silencioso tempo…
Mas deixa nas minhas roupas a saudade da tua forma…
E põe na minha dança o teu ritmo,
Para me conduzir…

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

14 DE FEVEREIRO - DIA DE S. VALENTIM

 

Aqui, eu e o meu namorado há quase 60 anos



E de seguida um dos primeiros poemas que escrevi inspirada pelo amor que nos une


POEMA DO NOSSO AMOR NASCIDO

Ainda me recordo do tempo de solidão
quando na estação do meu desejo
embarquei ao encontro de ti.
Era Primavera? Não. Era ainda Inverno.
Mas o tempo não contava. Era um montão
de horas encerradas
na penitenciária do passado.
E foi justamente nessa altura
que te encontrei.
Trazias a noite agonizante
em teus cabelos,
enquanto nos teus olhos dourados
raiava a aurora.
Nunca te tinha visto e no entanto
soube logo que eras tu. No teu sorriso
- branco malmequer que desfolhaste,
me perdi. Com a força do desespero
que agoniza em silêncio,
o nosso amor nasceu. Depois...
bem, depois, não estava previsto
-mas aconteceu...a maçã do saber
adormeceu em nós.
A cidade, o rio, as gentes,
a vida e até a própria morte
deixaram de nos importar.
Há alguma coisa mais importante que
um homem e uma mulher que se amam?...
Lembras-te? Era o tempo dos beijos
a saber a pôr-do-sol,
das madrugadas amanhecendo
nos sorrisos sem palavras.
Era o tempo em que os nossos corpos,
prenhes de Amor, cavalgavam
pelas montanhas da Ilusão.

Elvira Carvalho



in Antologia de poesia "Entre o sono e o sonho"  Chiado Editora


Feliz dia para todos vós.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

ANA MARGARIDA FALCÃO - PASSOS NA CALÇADA





PASSOS NA CALÇADA

 Ficarei deitada entre flores murchas e molhadas

como o pássaro que ignora estar caído e morto

sobre pedras íntimas escorregadias de sal

no chão de tábuas de um quarto crepuscular

ou sobre as lajes nuas de uma praça

onde se nasce e morre sem pausa e sem dor.

Será talvez assim numa praça

que não se atravesse nunca vagamente

por estar finalmente a cumprir-se o oráculo

ao dormir amante sobre o ventre de mãe

da única alva de amor partilhada

com cordas de chuva a rasgarem-me o dorso

e a mesma violência de ritmo bendito

com que me empurraste contra as tábuas da barcaça

há quatro séculos e um dia em Bruges.

Era Setembro tanto faz.


Cadernos de Santiago I, Lisboa, 2016, p. 120-121



Biografia AQUI

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

ALEXANDRA QUADROS - EU TRAGO A SABEDORIA DOS QUE ESCUTARAM SENTADOS




 - Eu sou todas as estradas que nunca percorreste,

sou todos aqueles com quem nunca viveste,
sou a alfazema, o açafrão e as estepes do norte.
Eu sou a neve, e também a espuma.
Sou o negro do carvão e o amarelo do trigo.
Trago um diamante no nariz e ouro na minha orelha.
Eu sou a paixão e também a morte.

Sou o canto profundo e a brisa quente da manhã.
Sou o desejo que te consome de madrugada
e o desejo que te desperta a meio da tarde.
Eu sou aquele que nunca pára.

Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados.
Trago o calor do mediterrâneo.
Eu sou a mistura das línguas e a língua universal,
molhada, intensa, imperceptível, perturbadora.
Eu sou o negro mas também o calor do fogo.
Eu sou a suavidade de um pé descalço
a pisar a terra macia,
sou a força de um salto a enfrentar-se na madeira.
Tenho muitos anos, muitas vidas.
E não sou tempo nenhum.



Biografia:
Alexandra Quadros nasceu em 1965,  em Portimão ,filha de mãe espanhola, pai português, irmãos angolanos, uma bisavó indiana e primos espalhados por Espanha, Estados Unidos, América Central e África. É sobrinha de Fernanda de Castro e António Ferro, e prima de António Quadros.
Desta mistura só podia sair alguém que gostasse de muita coisa ao mesmo tempo, mas sempre ligada à escrita: trabalhou durante vinte anos em Agências de Publicidade, primeiro como copywriter e depois como Diretora Criativa. Foi repórter de viagens na Blue Travel, contadora de histórias reais ou fictícias em revistas como a Fora de Série, Elle e Egoísta, e Diretora Editorial da Oficina do Livro.
Hoje trabalha por conta própria para poder continuar a desenvolver, com plena liberdade, a área da escrita. Lança-se agora na concretização de um dos seus projetos de sempre: iniciar-se na escrita de ficção. "Nunca te deixarei morrer" é o seu primeiro romance.