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domingo, 21 de julho de 2024

TERESA RITA LOPES - SE ÉS MEU AMIGO



 SE ÉS MEU AMIGO


Se és meu amigo
oferece-me um barco

e deixa-me no meio do mar
sozinha

Se gostas de mim
inventa para hoje
uma ilha

e deixa-me nua
na areia


Apenas o corpo das dunas
apenas a ansiedade dos juncos
apenas a pressentida viagem dos peixes

Apenas a alta sombra fresca
dos pássaros
passando


Biografia Teresa Rita Lopes já é repetente neste espaço. AQUI Publiquei a sua biografia

terça-feira, 16 de julho de 2024

TERESA BALTÉ - BEIJA-ME

 



BEIJA-ME


Beija-me
Sobre a areia fria, úmida do mar,
No sal da espuma alada
Que afaga de onda em onda os nossos pés,
No cintilar das estrelas álgidas, solitárias na noite,
Sobre os ossos lisos de corpos esfacelados e sangrentos.
Ajuda-me a lutar,
Envolve-me em teus braços
E deixa-me chorar a minha solidão
E a tua.


 AQUI uma pequena biografia da autora

quinta-feira, 11 de julho de 2024

TÂNIA TOMÉ - MOÇAMBIQUE





Moçambique



Quando me sento descalça
sobre o sapato do menino pobre
que me enche o pé
muito mais que outro qualquer
me lembro que existir
não é sozinha
é com toda gente.
E me lembro
que tenho de embebedar-me de ti
Moçambique
Porque tenho saudades de mim

Biografia AQUI

domingo, 30 de junho de 2024

SARA ALMEIDA SANTOS - SAUDADE




 SAUDADE


Saudade
De mim, de ti, de nós, dos outros
O tempo revela-se a cada instante
Inseparável da perda, inimigo do esquecimento
Não cura tudo, apenas o que queremos que cure
Passa por nós como se fossemos pequenas gotas de chuva
Acaricia-nos como a brisa de Verão num final de tarde
Dá-nos alento
Desespera-nos
Brinca como uma criança teimosa
Corremos atrás dele como se fosse uma fonte de energia inesgotável
Por vezes ignorámo-lo
Deixámo-lo a rir-se de nós
Com a indiferença de quem não vê, de quem não sente
Ele é omnipresente, tal como ela
A saudade
Eternamente insatisfeita
Perpetuada pelo tempo


Biografia  AQUI

domingo, 23 de junho de 2024

TERESA GUEDES - É NORMAL GOSTAR DE ROSAS

 



É NORMAL GOSTAR DE ROSAS


É normal gostar de rosas

É caro oferecer orquídeas

É suave colher lírios,

É original compor um ramo de flores silvestres.

Mas eu só gosto de miosótis:

São pequenos como eu,

Têm a insignificância dos meus olhos azuis,

Mas na sua dimensão minúscula

Tentam atingir a perfeição.


Biografia AQUI

domingo, 16 de junho de 2024

GIOVANNA POLLAROLO

 




FAÇO DE CONTAS QUE DURMO
a cada noite
rezo para que ele chegue mais tarde
e não me toque
há anos que odeio seu cheiro, as pontas de seu bigode
seus arquejos
o rosto
a baba, o suor
fecho os olhos até que acabe
dura pouco porém demasiado
mal me dá tempo para pensar
no fio de uma faca.


Biografia AQUI

domingo, 9 de junho de 2024

ROSA ALICE BRANCO -RETRATO PUÍDO NAS ENTRANHAS



 RETRATO PUÍDO NAS ENTRANHAS


Palmeiras inclinadas. Ao longe o casario.
É na água que o vejo, que sinto a cidade acordar.
Mais uma mulher que olha o rio. Tenho as mãos desatadas,
os pés a caminho. As margens alargam quando estou perto,
mas do outro lado as mulheres não reflectem
o rosto ou mesmo a sua ausência.
São matéria do verbo fazer e caminham junto ao chão,
na curva da noite para o marido. Gastos os sonhos por usar.
Descorado pano que ficou ao sol. Nelas a cidade não acorda,
não regressam os barcos à tardinha.
Vêm pela beira dos caminhos, a tristeza amável,
a raiva cega e às vezes um sorriso que sacode os ombros
porque até a tristeza tem um custo, uma esperança
na sola do sapato. Vejo-as todos os dias e é como se a vida
me atasse os pés, me anelasse os dedos. Como eu,
outras mulheres olhando o rio, desbordando o pano,
descozendo a sopa. Ama-se o homem que vira a esquina
connosco e sabe que não podemos fingir que a ferida
está fechada. As casas acendem.
É na água que vejo a sua luz descendo o rio.
As mulheres passam em silêncio para as casas,
atravessam a pele – deixam um retracto puído nas entranhas.
Olho o rio e não sei fingir que finjo tanto mar.



Biografia AQUI

sábado, 1 de junho de 2024

FÁTIMA LANGA - CRIANÇA






Criança

 Tu ! Que a ninguém pediste para vir ao mundo.

Tu! Que és o fruto daquele grande amor!
Daquele amor que leigos e jurados testemunharam
Daquele amor fogoso, de muita mentira
Daquele amor selvagem
Daquela violência que marcou tua mãe para todo o sempre
Por tudo isso, criança
Muito amor e muita rejeição te marcam.
Então não vejo?
Vejo sim criança!
Vejo quando divagas com a manada à procura de pasto.
Chova, troveje ou debaixo do sol árido estás ali!
Vejo nas grandes escolas lá da cidade alta
Quando logo pela manhã, bem equipado, o carro te deixa à porta do colégio
Quando desces do Chapa e cuidadosamente atravessas as largas Avenidas
Quando te metes naquela modesta rua a caminho da escola
Quando com camisola e sapatilhas rotas lutas por vencer a pobreza
Quando passo por ti ali no passeio encostado à padaria com uma bacia
vendendo badjias
Quando com uma caixa de papelão repleta de quinquilharias interpelas a todos
Tentando ganhar qualquer coisinha.
Quando junto ao semáforo te aproximas de cada carro pedindo uma moeda
Ó criança,
Ergue a cabeça
Ergue a cabeça e grite bem alto pelos teus direitos
Grite e lute com todas as armas e forças, pois,
Criança! Tu és o nosso amanhã
O País conta contigo amanhã.


Fátima Langa


Biografia AQUIAQUI

sábado, 18 de maio de 2024

SÓNIA SULTUANE - CHOREI OS HOMENS






 Chorei os homens,

mas nenhum, as minhas lágrimas viu,
nenhum as viu correr dentro de mim,
chorei os homens,
com lágrimas já tão cansadas, esperei...enfim...,
que algum as visse e as pudesse secar,
que algum as pudesse ouvir,
ouvir somente dizer que foi por amor,
que chorei lágrimas doídas


Sónia Sultuane
Moçambique


Biografia:

Nota: Amigos, só agora vi que embora continue em pausa, ainda saíram duas postagens dando ideia de que estava de volta. Não aconteceu, as postagens saíram porque estavam agendadas. Pensava regressar ao vosso convívio este mês mas uma virose, seguida de uma gastrite e uma infeção urinária não me têm dado descanso. Voltarei para em Junho, se entretanto recuperar a saúde. 





domingo, 21 de janeiro de 2024

SOFIA PINTO CORREIA MELO - PERCORRER A CASA

 



PERCORRER A CASA



Percorrer casa a casa
nas sombras projectadas
pela água perto
ruínas
ruínas as casas todas
casas várias da infância
de recordações de infâncias que me precedem
telhado aberto para o céu
chuva no soalho
nem precisaria das imagens para recordar
só os sons, só os sons
e o aroma a abandono
sopro a poeira devagar enquanto ela paira na luz
que trespassa a parede
e vai bater na parede em frente

domingo, 14 de janeiro de 2024

FLORBELA ESPANCA - PRIMAVERA

 Primavera

É Primavera agora, meu Amor!

O campo despe a veste de estamenha;

Não há árvore nenhuma que não tenha

O coração aberto, todo em flor!


Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor

Da vida… não há bem que nos não venha

Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!

Não há bem que não possa ser melhor!


Também despi meu triste burel pardo,

E agora cheiro a rosmaninho e a nardo

E ando agora tonta, à tua espera…


Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos…

Parecem um rosal! Vem desprendê-los!

Meu Amor, meu Amor, é Primavera!…

Florbela Espanca

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Pausa

 Amigos perdi meu marido, meu amigo, meu companheiro de horas boas e más durante quase 60 anos.

É uma dor sem tamanho. Não sei quendo voltarei.