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quarta-feira, 31 de março de 2021

LUCINDA PERSONA








Pedaço do tempo

E por último
(depois de todos)
este momento
tão sem forma e tom
De passagem
como o vento
que não vejo por dentro
que não vejo por fora
este momento
tão alheio à vida e à morte
Assemelha- se ao pólen
Solto na floresta
este momento
pedaço do tempo
profundamente escondido
em todo lugar

Que trabalho
não posso apanhá-lo
com palavra alguma.




- Lucinda Persona, em "Tempo comum". Rio de Janeiro: 7Letras, 2009.

Biografia AQUI

quinta-feira, 25 de março de 2021

SYLVIA PLATH






Canção da manhã


O amor faz você funcionar como redondo relógio de ouro.
A parteira bateu em seus pés, e seu grito nu
Tomou lugar entre os elementos.

Nossas vozes ecoam, exaltando sua chegada. Estátua nova
Num museu arejado, sua nudez
Assombra nossa segurança. Ficamos ao redor, brancos como paredes.

Sou sua mãe
Tanto quanto a nuvem que destila um espelho que reflete seu lento
Desaparecimento na mão do vento.

À noite toda seu hálito de mariposa
Flutua entre rosas lisas. Acordo e ouço:
Longe, um mar se move em meu ouvido.

Um grito, e cambaleio para fora da cama, vaca obesa e florida
Em minha camisola vitoriana.
Sua boca se abre, limpa como a de um gato. A janela

Embranquece e engole suas estrelas torpes. E agora você ensaia
Seu punhado de notas;
As vogais claras sobem como balões.
.




- Sylvia Plath, no livro "Ariel" (edição fac-simile).. [tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo] Campinas-SP: Verus Editora, 2007. 


Biografia AQUI

segunda-feira, 22 de março de 2021

DIA 21 DE MARÇO -- DIA MUNDIAL DA POESIA




 A minha casa é um palácio


A minha casa é um palácio

Às vezes amarelo 

Brilhante como sol em céu azul

Que abarrotava  de risos

Outras vezes cinzento, 

muito escuro.

Tão escuro quanto a dor

que dilacerava o meu corpo

e se esparramava pelo chão.

Às vezes enchia-se de música

como riso de crianças

Brincando num parque.

Outras vezes tão silencioso 

como espírito amordaçado pelo medo.


A minha casa sempre foi um palácio

sexta-feira, 19 de março de 2021

19 DE MARÇO, - DIA DO PAI

 

                   Foto do meu pai 


 PAI


Para ti,
que foste a semente da vida
Em mim.
Que me acolheste com Amor 
Em teus braços
Tantas vezes cansados
Mas sempre presentes
E me acompanhaste
Mais de metade da minha vida.
Que me ensinaste
 A caminhar
A ler
A escrever
Que me mostraste
Com teu exemplo
Como ser uma pessoa de bem.
Para ti
Meu pai, meu amigo,
Meu mentor.
Um enorme obrigado.
E se lá na dimensão
Onde te encontras
Te é dado ver o nosso plano
Aceita pai a minha gratidão
O meu amor, a minha saudade.



Peço desculpa pelas ausências. Tenho estado pior dos olhos.

segunda-feira, 15 de março de 2021

AILIME - NEM SEMPRE O SILÊNCIO É LÚCIDO


NEM SEMPRE O SILÊNCIO É LÚCIDO 

Nem sempre o silêncio é lúcido

quando na ausência das vozes
as palavras se calam.

 

o silêncio é a retração da voz
enleada em grãos de poeira
suspensas em nuvens de folhas.

 

por vezes é apenas mágoa, soterrada 
pelos pensamentos que se negam

a retratar-te na alma

os pudores que te recalcam.

 

o silêncio é o orgulho ferido
pelo preconceito do poema
quando renuncia às palavras.

 

 

AILIME, é uma bloguista que muitos dos que me 

visitam conhecem. 

Boa fotografa, poeta que muito admiro, 

e por isso mesmo é já uma repetente neste espaço. 

Para quem não conhece, 

podem encontrá-la AQUI

 

sábado, 13 de março de 2021

MARIA DA CONCEIÇÃO PARANHOS







Construção tardia



Acordamos tarde para a tarefa
de juntar as partes da vida,
jogo de armar em mãos inábeis.

Demasiado próximos da seiva,
enxergamos pouco.
Quem disse que é tão simples
dividir a vida em frases?
(ó infância rasurada!)
Só tempos fases.

A vida invade o tempo
(e não o oposto)
e nos atordoa
com sua face leve,
sedução e jogo,

ó vida, vida,
construção tardia:
acordamos tarde nessa arquitetura.

Grande é a gula. Parcas as nascentes.
Mas a garganta molha-se de sede,
procriando espaços de viver.



- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996


Biografia AQUI

segunda-feira, 8 de março de 2021

MARINA COLASANTI - EM DIA INTERNACIONAL DA MULHER

 




EU SOU UMA MULHER


Eu sou uma mulher

que sempre achou bonito

menstruar.

 

Os homens vertem sangue

por doença

sangria

ou por punhal cravado,

rubra urgência

a estancar

trancar

no escuro emaranhado

das artérias.

 

Em nós

o sangue aflora

como fonte

no côncavo do corpo

olho-d'água escarlate

encharcado cetim

que escorre

em fio.

 

Nosso sangue se dá

de mão beijada

se entrega ao tempo

como chuva ou vento.

 

O sangue masculino

tinge as armas e

o mar

empapa o chão

dos campos de batalha

respinga nas bandeiras

mancha a história.

 

O nosso vai colhido

em brancos panos

escorre sobre as coxas

benze o leito

manso sangrar sem grito

que anuncia

a ciranda da fêmea.

 

Eu sou uma mulher

que sempre achou bonito

menstruar.

Pois há um sangue

que corre para a Morte.

E o nosso

que se entrega para a Lua.

 

 

In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993



Biografia AQUI


quarta-feira, 3 de março de 2021

O MAIS DIFÍCIL



O MAIS DIFÍCIL

 

O mais difícil
hoje
não é sonhar
ainda que
o sonho
seja pérola negra
aprisionada
na ostra
do quotidiano.

O mais difícil
hoje
é inventar a Vida
no espaço agónico
da sobrevivência.


Este poema já foi publicado no Sexta, portanto já é conhecido daqueles que frequentam aquele espaço.