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terça-feira, 31 de agosto de 2021

MARIA HELENA BOTA GUERREIRO




DO MEU CANCIONEIRO


Ó meu barquinho veleiro
Onde levas meu sonhar?
Amor é mar traiçoeiro
E eu tenho medo do mar!

Eu julguei ver nos teus olhos
Um lago de mansas águas.
Mas foram um mar de abrolhos
Onde afoguei minhas mágoas.

Cansada, mas não vencida
Apesar de há muito andar
Sozinha no mar da vida,
contra a maré a remar!

Porque será que és medonho,
Mar, se em ti ruge a procela?
Tempestades tem a vida,
e ninguém tem medo dela.

Mar, apesar do perigo
Que nos mata  quando queres,
vale mais lutar contigo
Que aturar certas mulheres!


Maria Helena Bota Guerreiro


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

IGNEZ SABINO PINHO MAIA



Flores murchas

          (à Mariana de Almeida)

Como as flores que vivem um só dia
Ao sopro do calor da luz das salas
Frágeis desbotam as robustas galas
Perdendo bela cor que as revestia...

Assim exausta aos poucos cessa a vida
Tudo cede ao poder do permanente
Tufão, destruidor que, de repente,
Prostra a seiva do sangue amortecida.

Pois tudo que nasceu há de render-se
A essa lei fatal intransigente
Que destrói e corrompe consciente

A vida, o ar e a flor que, ao desfazer-se,
Pendendo sobre a haste agonizante,
Bem viu que a vida dura um breve instante.



- Ignez Sabino, em "Rosas pálidas: poesias". 1886.


Biografia AQUI

domingo, 15 de agosto de 2021

ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO


Espaço-tempo
Quero-te mesmo, amor, na ausência ou na presença,
com rumores de sombra, alarde ou desafios.
―Dormir num chão de luar à sombra de roseiras
ou sob os pirisais na baixada dos rios...

Assim te amo e te sei amando dia-a-dia,
acordada ou dormindo o germinal segredo.
E te abraço sem ter teu corpo ao meu, beijando
a saudade sem ser de quem se tem sem medo.

Amo-te mesmo, amor, no madrigal do tempo,
derrubando androceus e gineceus se amando
nas pálpebras do estio que o sono não acorda.

No teu dorso eu descanso a caminhada enorme
que fiz pra te encontrar ― lábios ardendo em busca
da tua noite azul onde minh'alma dorme.

Amo-te mesmo, amor. Se me vens ou te vais.
Sinto-te à flor da pele e à superfície da água
que dessedenta o bem que nos lava o mal.

Amo-te e não sei quem és ― teu nome nem origem.
Só sei que és homem são e me sabes mulher.
Que beleza este amor sem pranto nem vertigem,
sem princípio nem fim, nem dimensão sequer!


- Adalcinda Camarão, em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995.


Biografia AQUI

terça-feira, 3 de agosto de 2021

EULÁLIA MARIA RADTKE



As elegias

(1)

É meio dia em minha
vida,
meu sonho
meu sol,
minha dança alucinada
no horto.

Para quem fui,
gotas ficaram pendentes
nas espigas.
Para quem sou,
canto humilde e ave
partida.

É meio dia em minha
vida,
este relógio  de hastes
singulares e plurais
ceifando o tempo,
trazendo à luz
banquetes fartos e limpos
- irreais




- Eulália Maria Radtke, em "O sermão das sete palavras". Florianópolis SC: FCC Edições; Brasília: Thesaurus, 1985.

Biografia AQUI

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