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terça-feira, 25 de novembro de 2008

ADÉLIA PRADO



Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


Adélia Prado

Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará.No ano de 1950 falece sua mãe. Tal acontecimento faz com que a autora escreva seus primeiros versos. Nessa época conclui o curso ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração, naquela cidade.No ano seguinte inicia o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casassanta, que conclui em 1953. Começa a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho em 1955.Em 1958 casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas, funcionário do Banco do Brasil S.A. Dessa união nasceriam cinco filhos: Eugênio (em 1959), Rubem (1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966).Antes do nascimento da última filha, a escritora e o marido iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis. Em 1972 morre seu pai e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nessa ocasião envia carta e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade. "Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa.Continuava a escrever, mas enfadara-me do meu próprio tom, haurido de fontes que não a minha. Até que um dia, propriamente após a morte do meu pai, começo a escrever torrencialmente e percebo uma fala minha, diversa da dos autores que amava. É isto, é a minha fala."Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, que publique o livro de Adélia, cujos poemas lhe pareciam "fenomenais". O poeta envia os originais ao editor daquele que viria a ser Bagagem. No dia 09 de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da escritora."Bagagem, meu primeiro livro, foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. Descobri ainda que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando."O livro é lançado no Rio, em 1976, com a presença de Antônio Houaiss, Raquel Jardim, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Juscelino Kubitscheck, Affonso Romano de Sant'Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de Guimaraens Filho, entre outros.O ano de 1978 marca o lançamento de O coração disparado que é agraciado com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.Estréia em prosa no ano seguinte, com Soltem os cachorros. Com o sucesso de sua carreira de escritora vê-se obrigada a abandonar o magistério, após 24 anos de trabalho. Nesse período ensinou no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, Fundação Geraldo Corrêa — Hospital São João de Deus, Escola Estadual são Vicente e Escola Estadual Matias Cyprien, lecionando Educação Religiosa, Moral e Cívica, Filosofia da Educação, Relações Humanas e Introdução à Filosofia. Sua peça, O Clarão,um auto de natal escrito em parceria com Lázaro Barreto, é encenada em Divinópolis."O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta."Em 1980, dirige o grupo teatral amador Cara e Coragem na montagem de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No ano seguinte, ainda sob sua direção, o grupo encenaria A Invasão, de Dias Gomes. Publica Cacos para um vitral. Lucy Ann Carter apresenta, no Departament of Comparative Literature, da Princeton University, o primeiro de uma série de estudos universitários sobre a obra de Adélia Prado.Em 1981 lança Terra de Santa Cruz.De 1983 a 1988 exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura de Divinópolis, a convite do prefeito Aristides Salgado dos Santos. Os componentes da banda é publicado em 1984.Participa, em 1985, em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses, e em Havana, Cuba, do II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de Nossa América. Fernanda Montenegro estréia, no Teatro Delfim - Rio de Janeiro, em 1987, o espetáculo Dona Doida: um interlúdio, baseado em textos de livros da autora. A montagem, sob a direção de Naum Alves de Souza, fez grande sucesso, tendo sido apresentada em diversos estados brasileiros e, também, nos EUA, Itália e Portugal.Apresenta-se, em 1988, em Nova York, na Semana Brasileira de Poesia, evento promovido pelo Comitê Internacional pela Poesia. É publicado A faca no peito.Participa, em Berlim, Alemanha, do Línea Colorada, um encontro entre escritores latino-americanos e alemães.Em 1991 é publicada sua Poesia Reunida.Volta, em 1993, à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis, integrando a equipe de orientação pedagógica na gestão da secretária Teresinha Costa Rabelo.Em 1994, após anos de silêncio poético, sem nenhuma palavra, nenhum verso, ressurge Adélia Prado com o livro O homem da mão seca. Conta a autora que o livro foi iniciado em 1987, mas, depois de concluir o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise de depressão, que a bloquearia literariamente por longo tempo. Disse que vê "a aridez como uma experiência necessária" e que "essa temporada no deserto" lhe fez bem. Nesse período, segundo afirmou, foi levada a procurar ajuda de um psiquiatra. "O que se passou? Uma desolação, você quer, mas não pode. Contudo, a poesia é maior que a poeta, e quando ela vem, se você não a recebe, este segundo inferno é maior que o primeiro, o da aridez."Deus é personagem principal em sua obra. Ele está em tudo. Não apenas Ele, mas a fé católica, a reza, a lida cristã."Tenho confissão de fé católica. Minha experiência de fé carrega e inclui esta marca. Qual a importância da religião? Dá sentido à minha vida, costura minha experiência, me dá horizonte. Acredito que personagens são álter egos, está neles a digital do autor. Mas, enquanto literatura, devem ser todos melhores que o criador para que o livro se justifique a ponto de ser lido pelo seu autor como um livro de outro. Autobiografias das boas são excelentes ficções."Estréia, em 1996, no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte, a peça Duas horas da tarde no Brasil, texto adaptado da obra da autora por Kalluh Araújo e pela filha de Adélia, Ana Beatriz Prado.São lançados Manuscritos de Felipa e Oráculos de maio. Participa, em maio, da série "O escritor por ele mesmo", no ISM-São Paulo. Em Belo Horizonte é apresentado, sob a direção de Rui Moreira, O sempre amor, espetáculo de dança de Teresa Ricco baseado em poemas da escritora.Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, cidade com aproximadamente 200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá."Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."Em 2000, estréia o monólogo Dona da casa, em São Paulo, adaptação de José Rubens Siqueira para Manuscritos de Felipa. A direção é de Georgette Fadel e Élida Marques interpreta Felipa.
Em 2001, apresenta no Sesi Rio de Janeiro e em outras cidades, sarau onde declama poesias de seu livro Oráculos de Maio acompanhada por um quarteto de cordas.
Foto e biografia da net

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

ADALGISA NÉRI


Poema da amante

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita do tempo
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo
cair sobre mimSuavemente.

Biografia

Adalgisa nasceu menina pobre e teve uma infância triste. Era filha de um modesto funcionário da prefeitura do Rio de Janeiro e ficou órfã de mãe aos 8 anos de idade. Estudou como interna em um colégio de freiras e, naquela época, já era vista como "subversiva" por defender as "órfãs" (categoria comum nos colégios religiosos da época), consideradas subalternas e maltratadas. Por essa razão, acabou sendo expulsa da escola. Portanto, única educação formal que recebeu na vida foi a do curso primário, feito dos 9 aos 12 anos.
Aos 15 anos apaixonou-se por um vizinho, o pintor Ismael Nery, um dos precursores do Modernismo no Brasil, com quem casou aos 16 anos. O casamento durou 12 anos, até a morte do pintor em 1934 A partir do casamento, Adalgisa mergulhou em uma vida trepidante, que lhe proporcionou a entrada em um sofisticado circuito intelectual graças a freqüentes reuniões em sua casa, uma estada de dois anos na Europa com o marido, e a conseqüente aquisição de cultura. Mas a vida de Adalgisa foi também muito marcada pelo sofrimento e pela relação conflituosa, muitas vezes violenta, com o marido. O casal teve sete filhos, todos homens, mas somente o mais velho, Ivan, e o caçula, Emmanuel sobreviveram.
Em 1959 publicou o romance autobiográfico A Imaginária, que se tornou seu maior sucesso editorial. Adalgisa, usando como alter ego a personagem Berenice, descreveu como o fascínio que sentia pelo marido no início do casamento foi substituído por um verdadeiro sentimento de terror pela violência que ele podia assumir na vida cotidiana.
Viúva aos 29 anos, sem muitos recursos e com dois filhos para criar, Adalgisa foi trabalhar primeiro na Caixa Económica, mas depois conseguiu arranjar um cargo no Conselho do Comércio Exterior do Itamaraty.
Em 1937 lançou um primeiro livro de poesia, intitulado Poemas. Em 1940 casou-se com o jornalista e advogado Lourival Fontes, que era o diretor do Departamento da Imprensa e Propaganda (DIP), criado por Getúlio Vargas em 1939, para difundir a ideologia do Estado Novo.
Seguiu o marido em funções diplomáticas, em Nova York de 1943 a 1945 e como embaixador no México em 1945. No México desenvolveu amizade com os pintores Diego Rivera, José Orozco (ambos a retrataram), Frida Kahbo, David Siqueiros, e RufinoTamayo. Em 1952, viajou novamente àquele país, como embaixadora plenipotenciária, para representar o Brasil na posse do presidente Adolfo Ruiz Cortines.
O casamento com Lourival durou 13 anos e a separação ocorreu quando ele se apaixonou por outra mulher. Em razão do grande sofrimento, e apesar de seu valor literário ser reconhecido não só no Brasil como na França Adalgisa resolveu destruir a própria fama e renegar sua obra. A partir daí, tornou-se jornalista, escrevendo para o jornal Última Hora, e política. Foi eleita deputada três vezes, primeiro pelo Partido Socialista Brasileiro,(PSB) e depois, no tempo do bipartidarismo, pelo Movimento Democrático Brasileiro(MDB). Em 1969 teve o mandato e seus direitos políticos cassados.
Pobre e desamparada, sem ter onde morar, passou parte dos anos 1974/75, em uma casa do comunicador Flávio Cavalcanti, em Petrópolis, onde viveu como reclusa. Contrariando seu propósito de nunca mais dedicar-se à literatura, escreveu e publicou ainda dois livros de poesia, dois de contos, um de artigos e um romance, Neblina. O romance foi dedicado a Flávio Cavalcanti, reconhecido como "dedo-duro", em gratidão pelo acolhimento que lhe dera. No conflito entre o que seria "politicamente correto" e a lealdade a um amigo, Adalgisa escolheu, sem hesitar, o caminho do afeto. Em razão disso, o livro foi ignorado pela crítica.
Em maio de 1976, sem ter doença alguma, ela resolveu internar-se em uma casa de repouso de idosos, em Jacarepaguá. Um ano mais tarde, sofreu um acidente vascular cerebral e ficou afásica e hemiplégica. Três anos mais tarde, Adalgisa faleceu.

Biografia da Wikipédia
Foto da net

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

LÍDIA JORGE



Fado do retorno
Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada


Voltaste, já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E páras no tapete


Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa


Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada


Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te, na parede
O beijo que me peças


Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça.


Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada


Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro


Já fuma o nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já veio o nosso sono
Fechar-nos a garganta


Então que os cílios olhem
E assim a casa seja
A árvore do Outono
Coberta de cereja.

Lídia Jorge


BIOGRAFIA

Data de Nascimento: 1946-->Lídia Jorge nasceu em Boliqueime, Algarve, em 1946. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, tendo sido professora do Ensino Secundário. Foi nessa condição que passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, durante o último período da Guerra Colonial. A publicação do seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios (1980) constituiu um acontecimento num período em que se inaugurava uma nova fase da Literatura Portuguesa. Seguiram-se os romances O Cais das Merendas (1982) e Notícia da Cidade Silvestre (1984), ambos distinguidos com o Prémio Literário Cidade de Lisboa. Mas foi com A Costa dos Murmúrios (1988), livro que reflecte a experiência colonial passada em África, que a autora confirmou o seu destacado lugar no panorama das Letras portuguesas. Entre outros romances, conta-se O Vale da Paixão (1998) galardoado com o Prémio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus, o Prémio Bordallo de Literatura da Casa da Imprensa, o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio de Ficção do P.E.N. Clube, e em 2000, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano. Passados quatro anos, Lídia Jorge publicou O Vento Assobiando nas Gruas (2002), romance que mereceu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d’Escritas.


A autora publicou ainda duas antologias de contos, Marido e Outros Contos (1997) e O Belo Adormecido (2003), para além das publicações separadas de A Instrumentalina (1992) e O Conto do Nadador (1992). A peça de teatro A Maçon foi levada à cena no Teatro Nacional Dona Maria II, em 1997. O romance A Costa dos Murmúrios foi recentemente adaptado ao Cinema por Margarida Cardoso. Os romances de Lídia Jorge encontram-se traduzidos em diversas línguas. Em 2006, a autora foi distinguida na Alemanha, com a primeira edição do Albatroz, Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass, atribuído pelo conjunto da sua obra. Combateremos a Sombra, apresentado no dia 22 de Março, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, é o seu mais recente romance, e o Grande Prémio SPA-Millennium a sua mais recente distinção.
Em Portugal todos os seus livros têm a chancela das Publicações Dom Quixote

domingo, 9 de novembro de 2008

YOLANDA MORAZZO

Foto da net

Os Barcos

"Nha terra é quel piquinino
É São Vicente é que di meu"

Nas praias
Da minha infância
Morrem barcos
Desmantelados.
Fantasmas
De pescadores
Contrabandistas
Desaparecidos
Em qualquer vaga
Nem eu sei onde.
E eu sou a mesma
Tenho dez anos
Brinco na areia
Empunho os remos...
Canto e sorrio...
A embarcação
Para o mar!
É para o mar!...
E o pobre barco
O barco triste
Cansado e frio
Não se moveu...

Yolanda Morazzo

Biografia

Nasceu em 16 de Dezembro de 1927, natural da ilha de S. Vicente. Neta de José Lopes da Silva. Uma das raras poetisas cabo-verdianas deste período e a única voz feminina na revista Claridade. Frequentou o Liceu Gil Eanes do Mindelo e concluiu os seus estudos liceais em Lisboa, para onde foi em 1943, e onde fez os cursos de Francês no Instituto Francês e o de inglês no Instituto Britânico. Emigrou para Angola onde foi professora da Ailiance Française em Luanda. Deixou Angola em 1975 na sequência da descolonização e reside hoje em Lisboa. • Colaborou na Claridade, Cabo Verde - Boletim de Propaganda e Informação, no Suplemento Cultural; Ponto & Vírgula e Artiletra nos portugueses Artes e Letras do Diário de Notícias; nos angolanos Província de Angola, Jornal do Lobito, Notícia, República, etc. Figura em: Modernos poetas cabo-verdianos - Antologia, Praia, I. Santiago, 1961; Nós somos todos nós. Antologia Portugalidade, Luanda, Angola, 1969; A mulher e a sensibilidade portuguesa, Luanda, Angola, 1970; e No reino de Caliban - Antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa, Lisboa 1975. • Publicou: Cântico de /erro, Lisboa, 1976, 80 p.

(biografia recolhida na net)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

BLOGAGEM COLECTIVA - CECÍLIA MEIRELES


A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se
abria sobre uma cidade que parecia ser
feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.


Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas
todas as manhãs vinha um pobre com um
balde, e, em silêncio, ia atirando com a
mão umas gotas de água sobre as
plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para as
plantas, para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros e
meu coração ficava completamente feliz.


Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes encontro
nuvens espessas. Avisto crianças que vão
para a escola. Pardais que pulam pelo
muro. Gatos que abrem e fecham os
olhos, sonhando com pardais. Borboletas
brancas, duas a duas, como refletidas no
espelho do ar. Marimbondos que sempre
me parecem personagens de Lope de
Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes,
um avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.


Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.


Este é um blog de poesia no feminino. Tenho tentado mostrar aqui grandes vultos da poesia feminina, mas também grandes valores que são quase desconhecidos, da maioria dos meus visitantes. Hoje dia 7 de Novembro comemora-se o aniversário de nascimento de Cecília Meirelles, grande vulto da poesia brasileira, melhor dito, grande vulto da poesia de lingua portuguesa. Por isso este blog associa-se a esta homenagem, repetindo uma poeta (não gosto do termo poetisa) que já tinha publicado no dia 29 de Maio com a "Balada das dez bailarinas do cassino"
A quem interessar, nesse poste de 29 de Maio, encontrarão uma extensa biografia de Cecília Meirelles.