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domingo, 28 de maio de 2023

YOLANDA MORAZZO


Foto da Wikipédia






CONTRASTE


A minha alma trema em tuas mãos
debruçada na varanda desta tarde

Silêncio da cor em teus contornos
o adeus do mar dentro de mim

Para além do ilhéu dos pássaros da ilha
o sol morre aos poucos devagar

A minha alma treme em tuas mãos
debruçada na varanda desta tarde

Vejo os barcos ao longe na baía
as lanchas negras dos trabalhadores
a torre da capitania ao lusco-fusco

Lentamente uma a uma na cidade
vão acendendo as luzes da cidade

Na fábrica de bolacha do Matos
na padaria do Jonas depois

Só no cemitério ao lado é tudo escuro...

Branqueiam ainda as campas dos mortos
e os nomes vou ler à hora do sol
mas agora fazem medo à minha infância

Em casa dos meus vizinho perto
nh´ugénia de Sena e nhã Nê Grande
acenderam os candeeiros de petróleo


Yolanda Morazzo 


Yolanda Morazzo  já é residente neste blogue desde 2008. A sua biografia já foi publicada AQUI

sexta-feira, 26 de maio de 2023

BRANCA VIEIRA PINTO - MULHERES DO MAR

 



MULHERES DO MAR

Estou só
olhando a areia
em que me deito
e a noite feita de silêncios
que me falam de ti…
Neste mar de ondas calmas
onde as gaivotas se acolhem
neste espaço em que medito
numa distância galgada
entre o sonho e o existir…
E também eu fico sentada no arraial…
já tão rompido das lágrimas
e da espuma branca
dos corpos das mulheres
gastos pela espera…
Fico olhando-as,
os olhos postos no mar
rasgados pela distância,
fico com elas no mesmo abraço
e entramos pelo mar dentro…
Arminda Branca Pinto
(19-04-1974 – 19 anos)


A Branca é uma amiga que em tempos manteve um blog de poesia. Em 2009 mudou-se para o  Facebook e é lá que vai mostrando os seus poemas novos ou antigos. Branca vive no Porto.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

GRACITA - QUERO SER



Quero ser



 Quero ser...

tudo ou nada!
Quero ser...
alguém talvez ninguém

Quero ser...
magia quiçá fantasia
Quero ser...
o sol radiante
para toda gente aquecer

Quero ser...
a rutilante lua
para os amantes proteger

Quero ser...
espuma do mar
para os pés acariciar

Quero ser...
 água cristalina
para a sede saciar

Quero ser...
uma doce menina
pra bailar como dançarina

Quero ser...
uma flor perfumada
para todos poderem me cheirar

Quero ser...
um diminuto colibri
vermelho como rubi

Quero ser...
uma árvore frondosa
e te oferecer uma sombra gostosa

Quero ser...
tantas coisas!
Mas não sei qual escolher

Decidi ser apenas poeta
e com o bico da pena
meus poemas escrever
Rimas... versos... poesia
isso eu sei fazer.

Então... eu quero ser poetisa!




quinta-feira, 11 de maio de 2023

7 DE MAIO DIA DA MÃE

DE MÃE

O cuidado de minha poesia
aprendi foi de mãe,
mulher de pôr reparo nas coisas,
e de assuntar a vida.

A brandura de minha fala
na violência de meus ditos
ganhei de mãe,
mulher prenhe de dizeres,
fecundados na boca do mundo.

Foi de mãe todo o meu tesouro
veio dela todo o meu ganho
mulher sapiência, yabá,
do fogo tirava água
do pranto criava consolo.

Foi de mãe esse meio riso
dado para esconder
alegria inteira
e essa fé desconfiada,
pois, quando se anda descalço
cada dedo olha a estrada.

Foi mãe que me descegou
para os cantos milagreiros da vida
apontando-me o fogo disfarçado
em cinzas e a agulha do
tempo movendo no palheiro.

Foi mãe que me fez sentir
as flores amassadas
debaixo das pedras
os corpos vazios
rente às calçadas
e me ensinou,
insisto, foi ela
a fazer da palavra
artifício
arte e ofício
do meu canto
da minha fala.


Conceição Evaristo



terça-feira, 2 de maio de 2023

LIBERDADE - ELVIRA CARVALHO


 Liberdade


Meu sonho de menina
Na vida suspensa
Nas palavras amordaçadas
Vermelhas como sangue
Derramado
No cárcere da ditadura.
Eras a musa sonhada
Pelos poetas deste país
Amordaçado.
Mulher desejada e proibida
Nos sonhos dos homens
Do Minho a Timor.

Liberdade

Eras o farol procurado
Que todos acreditavam
Havia de os guiar
À libertação
Da longa e tempestuosa
Noite fascista.
Mas eras também
Semente a germinar
Coragem.
No corpo e alma das gentes
Do meu país.
À espera do momento certo.

Emergiste em Abril
Determinada
Nas mãos crispadas
Sobre as armas
De homens audazes.
A esperança e o sonho
Nos carros de combate
Rasgando as trevas da noite.
Liberdade
Enfim chegaste
Rubra como o sangue
Derramado
Nos campos de batalha.
Pacífica como um cravo
No cano de uma espingarda.

Elvira Carvalho



Porque festejámos há dias o 25 de Abril e estamos em vésperas do 1ºde Maio