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quarta-feira, 29 de maio de 2019

POEMA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN



POEMA


A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
O quadrado da janela
O brilho verde de Vésper
O arco de oiro de Agosto
O arco de ceifeira sobre o campo
A indecisa mão do pedinte
São minha biografia e tornam-se o meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
Sophia de Mello Breyner Andresen
in, “Geografia”

quarta-feira, 15 de maio de 2019

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN




Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto' 


Comecei este blog, no dia 29 de Abril de 2008, precisamente no dia em que o Sexta fazia o seu primeiro ano, exatamente com Sophia de Mello Breyner Andresen, e o poema Mulheres à beira-mar. Aqui
Porém e como este ano se comemora o primeiro centenário do seu nascimento, volto à poesia que até Novembro ainda vai por aqui aparecer mais vezes.




domingo, 5 de maio de 2019

FELIZ DIA DAS MÃES - SANDRA MAY




Festeja-se hoje o dia da Mãe, e para comemora-lo trago
um poema da Sandra May que a autora dedicou a sua mãe.




HELENA

De tantos dias esperando
Incansavelmente não perdeu a fé
De chegar não se sabe onde
De encontrar-se com  não se sabe quem
Assim os dias foram passando
Moídos com mãos pacientes
Desfiados um a um

E tantos tempos foram passados
Que sua pele enrugou-se em vincos
Como sulcos de terra seca
Como verniz velho, craquelado
Como das árvores muito velhas
As velhíssimas árvores avós

E os sonhos?
Ah, os sonhos!
Aqueles se mantiveram intactos 
Havia bebido da fonte da juventude
Porque ela conhecia O segredo

Das lembranças ?
Guardava as bandeiras brancas 
Tremulantes em varais ao vento
Roupas enxaguadas em águas de anil
Coisas do passado

E dos dias de luta restou a paz
Da certeza do papel cumprido
Dos travesseiros livre dos espinhos
Dos lençóis de algodão macios

Assim dormiu
Deixando meu coração tão vulnerável e oco
Assim dormiu
Em começo de noite
Deixando minha vida em total eclipse
Congelado momento
Assim dormiu minha mãe
Assim dormiu a minha Mãe.
É sempre uma dor imensa 
A falta que me faz
E a tua lembrança, mãe!


Sandra May
Biografia. 
A autora encontra-se AQUI