Anos Quarenta, os Meus
De eléctrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavao alto me aflorava muito
em sonhos à noite. E sofria de asma
alma e ar reféns dentro do pulmao
( como um chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mao ).
Salazar tres vezes, no eco da aula.
As verdiças tranças prontas a espigar
escondiam na auréola os mais duros ganchos.
E o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos
que hoje inda esbraceja numa árvore passiva.
Níqueis e organdis, espelhos e torpedos
acabou a guerra meu pai grita "Viva".
Deflagram no rio golfinhos brinquedos.
Já bate no cais das colunas uma
onda ultramarina onde singra um barco
pra cacilhas e, no céu que ressuma
névoas águas mil, um fictício arco-
-irís como é, no seu cor-a-cor,
uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projector
e o FIM através do tempo retine.
Luiza Neto Jorge
Poetisa portuguesa, natural de Lisboa. Estudou Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. Dedicou-se, depois, à tradução de poesia, prosa e teatro.
Como escritora, fez parte do grupo Poesia 61. Ligada à vanguarda da literatura portuguesa, por vezes próxima do surrealismo, foi um dos nomes marcantes da poesia portuguesa das últimas décadas. Foi, também, autora de diálogos para filmes (por exemplo «Brandos Costumes», de Alberto Seixas Santos, ou «A Ilha dos Amores», de Paulo Rocha) e adaptações para teatro ( «O Fatalista», de Diderot, em 1978), salientando-se ainda como tradutora de autores como André Breton, Gérard de Nerval, Jean Genet ou Marguerite Yourcenar.
Estreou-se com A Noite Vertebrada (1960), tendo sido publicados ainda, Quarta Dimensão (1961), Terra Imóvel (1966), O Seu a Seu Tempo (1967), Dezanove Recantos (1969), Os Sítios Sitiados (1973, colectânea), A Lume (1989, póstumo) e Poesia (1994, que engloba todas as suas obras poéticas).
(da enciclopédia Universal)
De eléctrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavao alto me aflorava muito
em sonhos à noite. E sofria de asma
alma e ar reféns dentro do pulmao
( como um chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mao ).
Salazar tres vezes, no eco da aula.
As verdiças tranças prontas a espigar
escondiam na auréola os mais duros ganchos.
E o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos
que hoje inda esbraceja numa árvore passiva.
Níqueis e organdis, espelhos e torpedos
acabou a guerra meu pai grita "Viva".
Deflagram no rio golfinhos brinquedos.
Já bate no cais das colunas uma
onda ultramarina onde singra um barco
pra cacilhas e, no céu que ressuma
névoas águas mil, um fictício arco-
-irís como é, no seu cor-a-cor,
uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projector
e o FIM através do tempo retine.
Luiza Neto Jorge
Poetisa portuguesa, natural de Lisboa. Estudou Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. Dedicou-se, depois, à tradução de poesia, prosa e teatro.
Como escritora, fez parte do grupo Poesia 61. Ligada à vanguarda da literatura portuguesa, por vezes próxima do surrealismo, foi um dos nomes marcantes da poesia portuguesa das últimas décadas. Foi, também, autora de diálogos para filmes (por exemplo «Brandos Costumes», de Alberto Seixas Santos, ou «A Ilha dos Amores», de Paulo Rocha) e adaptações para teatro ( «O Fatalista», de Diderot, em 1978), salientando-se ainda como tradutora de autores como André Breton, Gérard de Nerval, Jean Genet ou Marguerite Yourcenar.
Estreou-se com A Noite Vertebrada (1960), tendo sido publicados ainda, Quarta Dimensão (1961), Terra Imóvel (1966), O Seu a Seu Tempo (1967), Dezanove Recantos (1969), Os Sítios Sitiados (1973, colectânea), A Lume (1989, póstumo) e Poesia (1994, que engloba todas as suas obras poéticas).
(da enciclopédia Universal)
15 comentários:
Luiza Neto Jorge...mulher de baixa estatura e enorme intelectualidade. Conhecia nesse enorme "centro" de convivio que foi a Brasileira do Chiado...
Uma excelente homenagem. Um bom fim de semana.
Boa escolha, Elvira, boa escolha.
Beijinhos.
em sonhos à noite. E sofria de asma
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É isso. A vida é feita de sonhos, e sofrimento. As alegrias são nuvens passageiras.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel
Já há algum tempo que não vinha aqui ao seu espaço e mais uma vez fiquei encantada! Ler estes poemas tão belos e conhecer os seus autores ao som de Zeca Afonso é um repouso para alma neste fim de tarde.
Tudo de bom para si.
Um abraço
Esperança
boa!!!
:-)
Desejo-lhe as melhoras. Agora que descobri estes blogues tenciono voltar aqui. Tomei a liberdade de escrever um texto dos seus num dos meus. Citando, é claro.
Elvira,
Lindo post, parabéns!!!!
Estou com saudades de vc!!! Apareça, viu???? Sua presença muito me alegra.Beijinhos.
Eu não conhecia. Um poema nostálgico e belissimo!
Um beijo de boa semana Elvira
Obrigada amiga por teres passado em meu cantinho na minha ausência respeitando meu silencio...
Aproveito para dizer que estou de volta e ...Quanta falta senti de todos vós.
Passamos por máus momentos,mas quem espera pelos bons ,sempre os alcança.Estou feliz estou de volta para vos dizer que vos adoro.
Beijinho prateado com carinho,acompanhado de um lindo fim de semana
SOL
Luiza Neto Jorge, mais uma mulher da poesia que gosto de ler e tenho acompanhado poeticamente. deixou-nos muito cedo, ficou a sua poesia
é bom estar aqui. é como se me reencontrasse com poetas que vou lendo
um abraço terno
beijinhos
as suas melhoras
lena
Outra grande amiga de Zeca Afonso. A ambos encontrei no Algarve.Ambos nos deixaram muito cedo e mais pobres a poesia e a cultura portuguesas.
Gosto muito da sua poesia.
Beijinhos
Querida Amiga
Este seu blogue é muito especial, como tudo aquilo em que se envolve. Feito com um sentido genuíno de partilha,contribui para a divulgação das mulheres que viveram/ escrevem Poesia. Acabei de ler o belo poema da poetisa de São Tomé que dá aulas numa cidade francófona e já conviveu com os frios da Beira Alta: Magnífico. Também esta evocação de Luísa Neto Jorge ficou esplêndida. Xi coração. Grato,
Luís Maçarico
permitam-me, é superior às minhas forças! vou referir JoāoVieiraSantos no seu comentário ali em cima: "conhecia nesse enorme centro..." - o que é que LuisaNetoJorge conhecia nesse enorme centro?...nāo chegou a dizer. Ou... mas nāo! disparate meu! chegou ei a pensar que JVS teria querido dizer " CONHECI - A.........."
permitam-me, é superior às minhas forças! vou referir JoāoVieiraSantos no seu comentário ali em cima: "conhecia nesse enorme centro..." - o que é que LuisaNetoJorge conhecia nesse enorme centro?...nāo chegou a dizer. Ou... mas nāo! disparate meu! chegou ei a pensar que JVS teria querido dizer " CONHECI - A.........."
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