Ceifeiras !
Jamais!
Jamais!
Há um cante envolto em pranto, que lembra um tempo sem volta!
Mas que vai ganhando um outro encanto, pondo de lado a revolta!
Nossos pais sofreram tanto, nossos avós ainda mais!
Nós, nós fugimos a esse pranto, p’ra não ouvirmos seus ais
Homem que foi terra foi barro, em pleno campo criado
Comeu as sopas no tarro, levou aos ombros seu fardo!
Vamos olhar de outro jeito, o progresso em caminhada
Para aliviar o peito, desta gente amargurada!
Nossos campos ainda lá estão, as searas até o gado
Mas ceifeiras, essas não, foram escravas do passado!
Ainda o sobreiro dá sombra, e a cortiça que é riqueza
Arvore que a todos deslumbra, de raiz bem portuguesa...
Ainda há regatos correndo, e há ribeiras naturais
E a chuva que Deus vai mandando, p’ra dar vida aos cereais!
Ainda se ouvem cantar os rouxinóis na ribeira
Os pardais; a chilrear em alegre cavaqueira.
Ainda há lírios, alecrim, papoilas, planícies de trigais
Codornizes, perdizes rolas, mas as ceifeiras? Jamais…
Alegra-te meu amigo, olha a alvorada, outro dia
Anda vem cantar comigo as cantigas d’álegria
Saudades sim porque não, mas passado nunca mais
Pois marcou uma geração de dores misérias e ais
O mundo está em mudança, hoje a vida tem outro fado!
Nova canção! Outra dança!
Pois o passado é passado...
Rosa Dias
Biografia
Joaquina Rosa Pedreiro Guerreiro Dias, mais conhecida por Rosa Dias, nasceu em Elvas na maternidade Mariana Martins, em 26-9-1947. Sendo baptizada e registada em Campo Maior Vila de concelho, do alto Alentejo, onde cresceu e frequentou a escola primária do Bairro Novo, e onde completou a quarta classe. Logo que saiu da escola começou a trabalhar numa torrefacção de Café, pertencente ao Sr. João Ensina, onde começou a ganhar 25 tostões por dia, e onde esteve pouco tempo, pois logo começou a trabalhar como empregada doméstica, vindo aos 13 anos para Lisboa, onde continuou no mesmo ramo.Conheceu o seu grande amor com quem viria a casar aos dezassete anos e com quem ainda vive até aos dias de hoje.
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6 comentários:
Oi Elvira
Bonito e forte o poema da poetiza Rosa Dias, mais uma que quero ler .
Obrigada pela partilha ,já favoritei o site dela.
Outras danças , novas cançoes !
que as saudades nossas sejam só dos dias mais felizes.
Gostei de ouvi-la declamar, o sotaque com o barulho da plateia dificulta um pouco,rs
gosto do sotaque portugues ,só que é bem corridinho e as palavras pronunciadas como se melodia fosse rsrs há de ter atenção , senao nao alcanço .
meus abraços Elvira e uma boa noite
Um poema lindíssimo, comovente, que caracteriza na perfeição a vida no Alentejo, dura, de sol a sol, vinda de tempos remotos. Sacrificadas, estas gentes eternizam no seu cante, as dores físicas, a exploração do seu trabalho, mas as dore da alma, essas, passam de geração em geração e deixam marcas profundas.
Bela escolha!
Beijinhos
Bem-hajas!
Assim é, mesmo amiga Elvira.
Hoje é tempo de liberdade, mesmo que surja às vezes camuflada. Para trás...nunca mais.
Adorei o poema da Rosa Dias, com todo o sabor, cor e sentir do Alentejo que tanto adoro.
Abraço
Ná
Essa poesia, levou-me nos braços a outros tempos, Nostalgia quem sabe? ou talvez não! Apenas memórias de um passado recente, mas tão actual nesse povo sofrido, que sofre da mesma opressão...
muda-se os tempos, as verdades, fica sempre a opressão das vontades...
Abraços fraternos querida amiga e seguidora!
Ceifeiros!... Nem é bom pensar o martírio que essas pessoas passaram.
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Felicidades
Manuel
Fiquei deveras impressionada com a sua poesia!
Um abraço
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