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terça-feira, 5 de agosto de 2008

MARIA ALEXANDRE DÁSKALOS


"Onde cairá o orvalho se as pedras perderam dono"

Onde cairá o orvalho se as pedras perderam dono
e história
e só as coisas torpes e destruídas
cobriram os campos e tornaram cinza o verde?

Oiço exércitos do norte do sul e do leste
fantasmas lançado o manto das trevas
os rostos exilando-se de si mesmos.
Oiço os exércitos e todo e qualquer som abafarem.
- Não ouves a chuva lá fora, a voz de uma mulher,
o choro de uma criança?
Oiço os exércitos, oiço
os exércitos.

Quero reconstruir tudo - alguém disse
e ouvimos cair as árvores.
E vimos a terra coberta de acácias
e as acácias eram sangue.

Estamos à beira de um caminho
- que caminho é este?
Inventam de novo o vôo dos
pássaros.
Aqui já se ouviu o botão da rosa a desabrochar.

Maria Alexandre Dáskalos

Biografia

Poetisa angolana, Maria Alexandre Dáskalos nasceu em 1957, em Angola, na hoje martirizada cidade do Huambo.
Depois de ter frequentado o Colégio Ateniense e o de São José de Cluny, licenciou-se na área de Letras.
Filha do poeta Alexandre Dáskalos e casada com Arlindo Barbeitos, outro grande nome da poesia angolana, Maria Alexandre Dáskalos é, hoje, ao lado de Ana Paula Tavares, Ana Santana, Lisa Castel, Amélia Dalomba, entre outras, uma das vozes femininas com reconhecido prestígio nos meios literários.
Integra, como muitos outros seus contemporâneos, a "geração das incertezas".
A poesia da autora é caracterizada pela manifestação angustiada dos desejos do sujeito poético, cuja concretização tem sido obstaculizada por uma permanente situação de guerra. Paixões e sonhos, por vezes metaforizados pela liberdade da andorinha, a um tempo vividos sem mágoas e sem constrangimentos, "rota das andorinhas ", são agora, enclausurados, "rotas históricas da opressão ", e tema nuclear das novas vozes líricas dos anos 90: "(...) Esporear o tempo e percorrer veloz o caminho que está vedado das/extensas estações dominadas pela ilusão e o sonho.//...)Chegar à praia e saciar-me do azul do mar. "
Inconformada com a realidade vivida no seu país, após a Independência, Maria Alexandre Dáskalos projecta um "eu lírico" feminino que, consciente dos seus direitos de ser humano, reivindica o de se constituir como mulher na sua totalidade, não aceitando a postura passiva a que esta é sujeita no acto de amor. Por isso, contendo uma forte componente sensual, a sua poiesis é um grito de revolta e de desejo de liberdade, onde o Mar aparece metaforicamente como o espaço da liberdade, num tempo pretérito de que tem saudades e como espaço repressivo, num tempo actual: "(...) A memória dos nossos corpos/Perde-se nas águas./E as nossas palavras/ desfazem-se em círculos./Perdemo-nos quando olhamos o rio./Saudade de chegar ao mar. ".
Diversificando os estilos e até os géneros, a autora contempla-nos com uma grande variedade formal, que vai desde a poesia em prosa aos textos profundamente sintéticos de que é exemplo o poema "E agora só me resta".
Harmoniosa e fonte de melodia, a sua obra permite criar extraordinários momentos de poesia declamada.
Figurando em algumas antologias poéticas com reconhecimento, escreveu os seguintes livros: O Jardim das Delícias (1991) da editora angolana Ler e Escrever; Do Tempo Suspenso (1998) da Editorial Caminho e Lágrimas e Laranjas .


Biografia e foto retiradas da net


Muito obrigado a todos os que se têm interessado pela minha saúde. Continuo a recuperar da cirurgia.

15 comentários:

lua prateada disse...

Pois é Elvira quanto não haveria a discutir sobre este assunto mas assim torna-se difícil...
Espero contudo que estejas melhor e que a recuperação total seja rápida...
Beijinho prateado com muito carinho
SOL

gaivota disse...

minha amiga, como diz a lua prateada é um assunto complicado e difícil de "conversar"
eu estive em luanda há 2 anos, durante 15 dias...
que pena, que desilusão!
percebi que passou por uma cirurgia e está em recuperação, desejo que tenha corrido tudo bem e com êxito, e que fique bem!
beijinho grande e rápidas melhoras

Oliva verde disse...

Obrigada Elvira pelo poema!
É uma dupla satisfação vê-lo aqui publicado. Em primeiro lugar, porque é um lindíssimo poema, de uma grande poetisa. Depois, porque conheci e convivi durante os dois últimos anos de liceu com a Alexandre. Ela também frequentou o Liceu Norton de Matos (no Huambo) e foi uma grande amiga! É um ser humano belíssimo e escreve (já na altura nos fascinava!) muito bem. Além disso, sempre foi uma lutadora!
Por me fazer recordar, obrigada!

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Elvira a tua recuperação continua boa, é muito bom ler essas palavras... Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha

Isamar disse...

Deste-me a conhecer uma grande poetisa. Este poema é tão bonito que o li e reli. Aproveito para fazer uma pesquisa pelas outras poetisas que referiste do " grupo das incertezas". Como é do teu conhecimento, gosto muito de poesia.
Sei que também gostas e talento não te falta.
Um excelente blog, amiga!

Continua!

Beijinhos

Isamar disse...

Desculpa, queria dizer " geração das incertezas".

Beijinhos

Anónimo disse...

Elvira bonito poema
Continuação de boa resuperação

mundo azul disse...

Conheci mais uma trabalho, de alguém que eu não conheci! Um belo poema... Obrigada por traze-la!

Beijos de luz e o meu desejo de que você esteja totalmente recuperada!

Um final de semana feliz!

@slz_ disse...

que chucha?

pin gente disse...

já não ouvimos nada
não ouvimos o que deve e merece ser ouvido
os gritos são tantos
as vozes são tão roucas que nos calam a ternura das palavras
e amanhã ainda haverá mais gritaria
amanhã haverá mais sangue a brotar das árvores
porque elas tombam como o medo
tobam por não reconhecerem mais o dia
por não descansarem com a noite
porque os gritos afligem a verde folhagem
porque as folhas passam de verde a rubras
porque as caducam imploram não cair
apodrecem nos ramos com medo da queda
no chão, além do alarme, há passos brutos
passos de revolta de quem não pode nada
nós já nada ouvimos
mas vemos o susto dos pássaros
a partida das andorinhas muito antes do fim do verão
os ninhos caídos e destruídos pelos seus próprios fazedores
não vale a pena deixá-los vingar
vai passar a ser lei da natureza
porque nós já não ouvimos nada
mas eles ouvem tudo... e só ouvem gritos



um abraço (com contibuação de melhoras)
luísa

Sonia Regly disse...

Elvira.
VC está dodói??? Espero que se recupere logo, para seu bem -estar e nossa alegria, viu??? Beijinhos.
Sonia

Nadinha disse...

Então já está melhorzita? Ainda bem.
Continue com as poetas e a poesia.

lua prateada disse...

Espero que tudo te vá bem amiga que as melhoras sejam as tuas actuais compamheiras...
Vai atrás do teu sonho...dá um passo de cada vez, não te detenhas, continua a escalada, pois lá xegarás...Feliz fim de semana.Se
estás de férias apenas aproveita e, GOZA muito...
Beijinho prateado
SOL

Sonia Regly disse...

Elvira,
Amei vc ter me visitado e para mostrar que gosto muito de vc, deixo um selinho de presente lá no Blog para vc.Beijinhos.

Anónimo disse...

¿donde caerá la lluvia? ¿dentro o fuera de nosotros?