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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

SOLEDADE MARTINHO COSTA





Outros Natais


Onde a magia dos Natais de outrora
O presépio dos olhos da infância
São José, a Virgem, o Menino
Figuras modeladas
Quase gente
A mostrar-se ao espanto
Dos pastores que vinham
Em fila pelo musgo dos caminhos
Para ofertar cordeiros e presentes.

Onde a azáfama do rumor das mãos
Nos alguidares de barro onde a farinha
A abóbora, os ovos, o fermento
Tomavam forma e gosto tão distantes.

Aonde o sono arredio que não vinha
Nessa Noite Sagrada em que os pinheiros
Choram saudades de bosques e de estrelas
Sob a caruma de luzes e de enfeites.

Onde o mistério que seguia os passos
Dos adultos no ranger das tábuas
Em nossos passos furtivos de criança
Na ânsia de encontrar em qualquer canto
De barbas e de saco o Pai Natal.

Quantos Natais assim em que a Família
Se reunia inteira à grande mesa
Da sala de jantar tão velha e gasta
Mas que nessa noite por magia
Transformava em cristal os vidros baços.

Quantos presépios retidos na memória
Quantos aromas ainda a Consoada
Quantos sons a deixar nos meus ouvidos
Os risos, os beijos, os abraços.

Quantas imagens cingidas na penumbra
Desta lembrança que se fez saudade
Dos rostos, dos gestos, das palavras
Na lonjura das vozes e da Casa.

Noite Divina em que torno a ser criança
Ante o meu olhar adulto e me desperto
Na emoção que nos traz os anos:
O meu Natal é hoje mais concreto
Mas muito menos belo e mais deserto.



Soledade Martinho Costa



AQUI a biografia da autora




15 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Boa noite:- Li e reli este poema. Classifico-o numa palavra; " SUBLIME "
.
Cumprimentos

Roselia Bezerra disse...

Boa noite de paz, querida amiga Elvira!
De fato, o Natal e menos em
Muitos aspectos, mas muito maior em outros.
Verdadeiras considerações sobre a Data especial
Tenha um Dezembro muito feliz#
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Isamar disse...

Um lindíssimo e verdadeiro poema de natal.
Parabéns à autora.
Bom fim-de-semana.
Beijinhos

R's Rue disse...

Love.

HD disse...

Outros tempos de maiores sentimentos... *_*

O meu pensamento viaja disse...

Belíssimo poema, Elvira.
Beijinhos

Majo Dutra disse...

Gostei desta poesia cantante, saudosa, intimista e sentida.
Bom fim de semana, Amiga.
Abraço
~~~

manuela barroso disse...

Tudo está em rápida mudança e a nostalgia acompanha as saudades com o encantamento na procura do musgo.
Mas dentro do coração o presépio será sempre igual
Bji Elvira

Beatriz Pin disse...

Gostei do poema de Soledade Martinho Costa porque é o meu sentir também. Para min tambén o Natal ja non é o que foi. Agora, como dí a autora, é mais "deserto, menos belo, lonjura de vozes, saudaade, penumbra" e eu engadiría, mais comercial, mais consumista, mais frívolo, menos tenro....Tanta luz, ilumina so por fora. Fan falla luzes que iluminen dentro de nós.
Aperta grande, Elvira. Felicidade sempre que se poida, no só no Natal. Grazas pela sua visita.

Olinda Melo disse...


Sim, onde está esse Natal da nossa infância,
com os cheiros, usos e costumes tão diferentes
de agora?

Belo poema. Uma poetisa que não conhecia.

Beijo

Olinda

Jorge Sader Filho disse...

Um tributo a maior festa de tantos povos, Elvira!
Parabéns, Feliz Natal e grande beijo.
Jorge

Donetzka Cercck L. Alvarez disse...

BELO!
TEM POST NOVO NO MEU BLOG HOJE, DIA 11 DE DEZEMBRO.


BEIJOS SABOR CARINHO E UMA QUARTA_FEIRA DE PAZ E ALEGRIAS

OBRIGADA PELA VISITA


DONETZKA

silvioafonso disse...

É nessa época a gente fica mais
gentil, carinhoso e sensível,
posso assim dizer.
Quanto ao lagarto pintado na saia
me reporta à música de um patrício
seu que dizia o que te respondo no
meu blog, querida Elvira. Tá curiosa?
Volta lá...

Lua Singular disse...

Oi Elvira
Dormi toda tarde, não estou bem.
Só você mesma para escrever uma poesia tão linda sobre o seu Natal. Quantas reminiscências!
Beijos no coração
Lua Singular

Erika Oliveira disse...

Admiro muito a poesia portuguesa, Linda escolha,