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Avó MarianaAvó Mariana, lavadeira
dos brancos lá da Fazenda
chegou um dia de terras distantes
com seu pedaço de pano na cintura
e ficou.
Ficou a Avó Mariana
lavando, lavando, lá na roça
pitando seu jessu
1à porta da sanzala
lembrando a viagem dos seus campos de sisal.
Num dia sinistro
p'ra ilha distante
onde a faina de trabalho
apagou a lembrança
dos bois, nos óbitos
lá no Cubal distante.
Avó Mariana chegou
e sentou-se à porta da sanzala
2e pitou seu jessu
1lavando, lavando
numa barreira de silêncio.
Os anos escoaram
lá na terra calcinante.
- "Avó Mariana, Avó Mariana
é a hora de partir.
Vai rever teus campos extensos
de plantações sem fim".
- "Onde é terra di gente?
Velha vem, não volta mais...
Cheguei de muito longe,
anos e mais anos aqui no terreiro...
Velha tonta, já não tem terra
Vou ficar aqui, minino tonto".
Avó Mariana, pitando seu jessu
1na soleira do seu beco escuro,
conta Avó Velhinha
teu fado inglório.
Viver, vegetar
à sombra dum terreiro
tu mesmo Avó minha
não contarás a tua história.
Avó Mariana, velhinha minha,
pitando seu jessu
1na soleira da senzala
nada dirás do teu destino...
Porque cruzaste mares, avó velhinha,
e te quedaste sozinha
pitando teu jessu
1?
(É nosso o solo sagrado da terra)
Biografia
Nascida a 30 de Abril de 1926 na cidade de São Tomé, Alda Graça do Espírito Santo, combatente da luta pela independência nacional, instruiu a nova geração pós independência, e pelas suas mãos de poetisa nasceram versos e rimas que sustentam o orgulho da República Democrática fundada em 1975. Uma referência nacional, que rejeita vanglórias e com humildade continua a batalhar pela conquista do progresso do país soberano.
Desde a juventude que Alda Graça do Espírito Santo vive na mesma residência na Chácara, arredores da capital São Tomé. Segundo ela só deixa aquele lugar quando for chamada para o eterno descanso no cemitério do alto São João.
Aos 83 anos, continua lúcida, inteligente, um verdadeiro depósito vivo de saber que continua alimentar gerações de são-tomenses. Foi professor da geração de são-tomenses, que gritou pela independência nacional.
Criou a primeira geração de jornalistas do país, e como poetisa imortalizou o massacre de 1953 no poema TRINDADE, que desde a independência nacional é recitado todos os anos e de forma arrepiante por uma voz feminina.
A poder poético de Alda graça está presente todos os dias, e em todos os momentos de São Tomé e Príncipe. O grito pela independência nacional, a unidade do povo no coro da esperança, é reflectido na letra do hino nacional de que ela é autora.
Membro do Governo de transição, como Ministra da Educação, Alda do Espírito Santo, foi também ministra da informação e cultura. Fez dois mandatos como Presidente da Assembleia Nacional Popular.
Criou a União dos Escritores e Artistas São-tomenses, onde continua a trabalhar na criação de novos valores para cultura literária são-tomense.
“Mataram o rio da minha cidade”, é uma obra de Alda do Espírito Santo, que desperta a atenção dos são-tomenses exactamente para a recuperação da capital e do rio que deu nome a toda a região de Água Grande.
Dados biográficos da autoria de Abel Veiga