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quinta-feira, 2 de julho de 2009

EUGÉNIA TABOSA

Foto oferecida por uma amiga
Destino


No passeio junto à praia,
do outro lado da estrada
duas mulheres de negro
caminham apressadas,
o vento fá-las dobrar
as saias parecem asas
debatendo-se no ar.
Do outro lado da estrada
no passeio junto ao mar
duas mulheres gemendo
parecem quase voar,
na cabeça lenços pretos
encobrem-lhes o olhar,
as mãos apertam o peito
pra o coração não estalar.
O vento uiva mais alto
trazendo gritos da praia
um espanto para lá do mar,
elas correm, como correm
nem a água as faz parar
procuram cegas os barcos
e nada há que encontrar.
Só então abrem os braços
erguendo o punho ao ar
gritam de revolta e dor,
soltam seu ódio, seu mal,
chamam, choram de amor,
e as lágrimas abrem sulcos
naqueles rostos desfeitos.
Desceu um silêncio à praia
era a morte a passear
por entre gaivotas feridas
todas de negro vestidas
olhos presos no mar.


Eugénia Tabosa

Biografia

Nasceu em Lisboa, e viveu cruzando o Atlântico, entre Lisboa e S. Paulo, até que em 2005 se radicou em S. Paulo .
Mulher de múltiplos talentos, é licenciada em Pintura pela Universidade de Belas Artes de Lisboa.
Professora de Educação Visual por mais de um quarto de século, trabalha também em Cerâmica e Azulejaria, e ainda restauro arqueológico.
A leitura e a escrita são paixões antigas, e AQUI pode encontrar algumas das suas obras em pintura, desenho e cerâmica.

(biografia apresentada na página da escritora AQUI

7 comentários:

Serena Flor disse...

Que lindo poema minha querida...adoro vir aqui sabia?
Beijos e uma linda tarde pra você!

Sonia Schmorantz disse...

Um poema de despedidas, das viúvas do mar...muito bonito
beijo e lindo final de semana

lua prateada disse...

Triste e tão lindo como era o amor dessas mulheres...
Beijinho prateado

SOL

EDUARDO POISL disse...

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”

(Fernando Pessoa)

Desejo um lindo final de semana com muito amor e carinho.
Abraços


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Mare Liberum disse...

Um poema lindíssimo, amiga. O mar é pão, é amor, é alegria mas também é dor. Quantas vezes!

Beijinhos

Bem-hajas!

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA ELVIRA, MAIS UM POEMA BRILHANTE, ADOREI!!!
ABRAÇOS DE AMIZADE,
FERNANDINHA

mariabesuga disse...

O destino as faz fecharem-se sobre si próprias nas recusa dos sentidos... quantas vezes!...

Abraço, Elvira.
Muito bonitos e intensos os poemas que aqui nos deixa.