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terça-feira, 26 de maio de 2020

MARIA VELHO DA COSTA



Maria Velho da Costa deixou-nos hoje. Uma tremenda perda para a nossa literatura. 
Para a cultura portuguesa. 
Luz e Paz para o seu espírito



Revolução e Mulheres

Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.

Maria Velho da Costa


Biografia AQUI

12 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Não conhecia. Que descanse em Paz
.
Um domingo feliz
Cuide-se

Gracita disse...

Não conhecia poetisa
Que sua alma esteja na luz divina
Beijinhos

Majo Dutra disse...

Há sempre a sensação de um grande espaço vazio, quando parte um grande vulto da nossa cultura.
Paz ao seu espírito.

Boa semana. Abraço.
~~~~

Josélia Micael disse...

Não conheço muito das obras desta Grande poetiza e nem a nível cultural.
Conheço bem de nome!
Que Deus lhe dê o eterno descanso.
Beijo com carinho amiga!

Cidália Ferreira disse...

Realmente eu também não conhecia!

Mas que a sua alma descanse em paz!

silvioafonso disse...

Mais que bonito escreve ou escrevia
Maria Velho, gente.
É uma perde maior do que pode pensar
a morte.
Elvira, um beijo, um abraço e meus
respeitos. Principalmente à família
daquela poeta.

Nal Pontes disse...

Que bela poesia. Inspiração e reflexão. Parabéns pela suposta homenagem. Um abraço

Micaela Santos disse...

Eu também não conhecia!
Este poema é qualquer coisa de fenómenal!
Apreciei muito!

Abraço E boa semana com muita saúde Elvira!

Olinda Melo disse...


Grande figura da Literatura Portuguesa.
Uma perda irreparável. Mas perdurará
através da sua Obra e da sua forma de
estar na vida.

Bj

Olinda

São disse...

E assim ficamos sem mais uma referência. Que tenha Luz !

Das três Maria só resta Maria Teresa Horta...

Tudo de bom, abraço

Isamar disse...

Olá Elvira,
Como tem estado? Espero que bem.
Não conhecia esta autora :(
Mas que brilhante poesia, adorei. Mais uma vez obrigada pela partilha.

Fique bem, beijinho!

HD disse...

Que linda homenagem! :-)
Abraço