"OS PASSOS DA POESIA"
Deslizas pela delicadeza
com teus pés magoados
.
Por que caminhas agora sobre vidros,
por que exiges de ti essa aguda cautela?
Os céus teriam sido a morada, as areias finas
do nosso desencontro?
Soubera-o eu e ter-te-ia ajudado a não descalçar os sapatos.
As meias também
Deixar-te ficar com elas, durante o amor,
tem sido (foi sempre) um motivo de deleite.
De carinho.
Uma inclinação natural
de proteger-te.
Se te pintara, numa imensa e clara tela, começaria
por essa mancha: estremecida.
Estremecida!
Ia jurar que nunca te apercebeste de como posso,
em discrição, exceder-lhe os pormenores
– convocar o fascínio,
a cor, a textura; pressagiar-lhe os passos de um suor doloroso.
Por que permiti, então, o caminhares por lugares
penosos?
Não mo perdoo.
Agora que os aperfeiçoas na fuga, espero bem poder acolhê-los
como pombas,
lavar-tos com a imaginação perfumada
das nuvens,
o olhar atento ao delicado equilíbrio, no quadro,
da moldura.
Anunciavam já, no tempo em que ao meu encontro
corriam, esse enredo de minuciosas
dores? – Quais? As de viver? O competente espaço
onde os acolho para a frescura da relva
por nascer?
Biografia AQUI
4 comentários:
Mais uma poesia linda, bem escolhida! Já te vi lá nos teus céus, tão lindos...Que bom ter essa sacada, não? bjs, chica, lindo dia!
Fantástica escolha, amei
Beijos e um resto de um bom Domingo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Este poema não é de fácil entendimento, pelo menos para mim e depois de o ler umas quatro vezes, fiquei sem perceber o que nos queria, exatamente, transmitir Eduarda Chiote, cuja biografia já consultei.
Não sei se o texto poético é dedicado à poesia ou ao amado, ou talvez seja uma mistura, uma fusão dos dois.
Fazer amor de meias? Caricato, no mínimo, mas há quem tire disso prazer, sim, porque não somos todos iguais.
Perguntas ao longo do poema, talvez para o leitor pensar, ou dúvidas da própria poetisa.
Beijos, Elvira e boa semana.
Excelente escolha, um poema delicado e belo.
Beijinhos
Maria
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