Os apanhadores de conquilhas
Uma família inteira
a apanhar conquilhas
É o pai é a mãe
é os filhos é as filhas
todos acocorados
na sôfrega função
O gotejar do tempo
é coisa que angustia
se não conduz a nada
se não enche vasilha
por isso esta família
sente que cumpre o dia
se ouvir dentro do plástico
o gluglu da conquilha
E eu que sempre apanhei
conchas mas sem miolo
neste imenso areal
desde os confins da infância
tenho que me render
ao triste desconsolo:
até estas gaivotas
só andam à ganância:
cada vez que mergulham
trazem peixe no bico!
E pensar que cantei
a esbelta liberdade
de suas brancas asas!
Por hoje aqui me fico
sofrendo em solidão
esta crua verdade:
Não há gestos gratuitos
por mais que diga ou faça
famílias ou gaivotas
a cada um seu isco
em serviço ou em férias
nenhum voo é de graça
só entendem o mar
se produzir marisco
Mas e eu que faço eu
a pé por estas ilhas
com ar de quem levou
uma pedrada na asa
senão catar também
umas tristes conquilhas
estas rimas forçadas
que vou levar para casa?!
Teresa Rita Lopes
Biografia
Nasceu em Faro, em 1937. Viveu 13 anos em Paris onde foi professora na Sorbonne e defendeu a tese de doutoramento "Fernando Pessoa et le drame symboliste – héritage et création". É professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa.
Teresa Rita Lopes é um dos maiores especialistas contemporâneos
Dirige um grupo de investigadores que produziu várias obras, nomeadamente um guia de Lisboa, escrito por Pessoa, com traduções em várias línguas (espanhol, francês, italiano e duas em alemão).
Das obras produzidas individualmente em português destaca-se Pessoa por conhecer (2 volumes, mais de 400 inéditos) e uma edição crítica: Álvaro de Campos – Livro de Versos (mais de 80 poemas inéditos).
Organizou várias exposições sobre Fernando Pessoa, em Espanha (inauguração em Madrid, itinerante por toda a Espanha), no Brasil (inaugurada
Tem-se dedicado à obra de Miguel Torga, sobre a qual tem vários ensaios. Tem além disso colaborado regularmente em várias publicações literárias portuguesas e estrangeiras, quer no domínio do ensaio, quer da poesia.
Dedica-se à poesia, tendo três livros publicados e, regularmente, a teatro.
Tem peças publicadas e representadas em Portugal e no estrangeiro: França, Bélgica, Itália, Roménia, Alemanha. A sua peça Se Mentes (Wenn du lügst – Samen) foi escolhida para representar Portugal no Festival de Autores de Teatro na Bonner Biennale 94 – e posteriormente representada em Munique e em Roma.
Dona de vasta obra em vários campos, que poderá consultar no site de onde retirei a biografia.
Biografia retirada DAQUI
9 comentários:
Olá amiga Elvira,
Excelente excolha, como já vem sendo habitual.
O Algarve e a apanha da conquilha não são novidade para mim, é uma faina que é só produtiva nas marés vazas...eu própria já apanhei algumas, o suficiente para uma refeição para dois.
Sabor divinal.
Esta poetisa fez uma descrição perfeita, linda, da vida desses apanhadores de conquilhas bem como uma analogia com a sua própria.
Parabéns
Abraço
Ná
a muita labuta
a crueza da vida
a partilha
a família
um abraço, elvira!
luísa
tudo se faz(ia) para ganhar a vida!
bom fim de semana
beijinhos
Como sempre uma linda excolha.
“Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.”
Miguel de Unamuno
Desejo um lindo final de semana com muito amor e carinho
Abraços
Amiga Elvira,
Dentro de dias terei os livros, À Deriva e Sabor a Sal e a Mar, da Maria José Areal, para lhe enviar.
Só preciso que me mande a sua morada por e-mail, será uma oferta da autora pela sua gentileza na sua divulgação.
Um bom fim de semana e um abraço amigo,
Ná
Esta eu conheço bem. Amiga da família, aluna do Liceu de Faro, é uma Pessoana de truz.
A apanha da conquilha, no Verão, com a maré vazia é uma tarefa que entusiasma.
Beijinhos
Bem-hajas!
Obrigada pela sua visita.
Volte sempre.
Mais uma mulher batalhadora,em prol de sua familia.
beijooo.
As fortes e corajosas mulheres das tuas escolhas, sempre muito bom ler!
beijos
É realmente muito erudita, mas a poesia não é depósito de erros gramaticais.
O quarto verso está errado.
Deveria ser: "são os filhos, são as filhas"
Abraço
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