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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

TERESA RITA LOPES

Foto de Luís Araújo Pinheiro

Os apanhadores de conquilhas


Uma família inteira
a apanhar conquilhas

É o pai é a mãe
é os filhos é as filhas

todos acocorados
na sôfrega função

O gotejar do tempo
é coisa que angustia

se não conduz a nada
se não enche vasilha

por isso esta família
sente que cumpre o dia

se ouvir dentro do plástico
o gluglu da conquilha

E eu que sempre apanhei
conchas mas sem miolo

neste imenso areal
desde os confins da infância

tenho que me render
ao triste desconsolo:

até estas gaivotas
só andam à ganância:

cada vez que mergulham
trazem peixe no bico!

E pensar que cantei
a esbelta liberdade

de suas brancas asas!
Por hoje aqui me fico

sofrendo em solidão
esta crua verdade:

Não há gestos gratuitos
por mais que diga ou faça

famílias ou gaivotas
a cada um seu isco

em serviço ou em férias
nenhum voo é de graça

só entendem o mar
se produzir marisco

Mas e eu que faço eu
a pé por estas ilhas

com ar de quem levou
uma pedrada na asa

senão catar também
umas tristes conquilhas

estas rimas forçadas
que vou levar para casa?!

Teresa Rita Lopes


Biografia


Nasceu em Faro, em 1937. Viveu 13 anos em Paris onde foi professora na Sorbonne e defendeu a tese de doutoramento "Fernando Pessoa et le drame symboliste – héritage et création". É professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa.

Teresa Rita Lopes é um dos maiores especialistas contemporâneos em Fernando Pessoa, tendo centrado o seu trabalho académico na obra deste poeta e dedicando-se especialmente à divulgação da parte inédita da sua obra.

Dirige um grupo de investigadores que produziu várias obras, nomeadamente um guia de Lisboa, escrito por Pessoa, com traduções em várias línguas (espanhol, francês, italiano e duas em alemão).

Das obras produzidas individualmente em português destaca-se Pessoa por conhecer (2 volumes, mais de 400 inéditos) e uma edição crítica: Álvaro de Campos – Livro de Versos (mais de 80 poemas inéditos).

Organizou várias exposições sobre Fernando Pessoa, em Espanha (inauguração em Madrid, itinerante por toda a Espanha), no Brasil (inaugurada em S. Paulo, depois itinerante) e em França (Paris, Centre Pompidou – Beaubourg).

Tem-se dedicado à obra de Miguel Torga, sobre a qual tem vários ensaios. Tem além disso colaborado regularmente em várias publicações literárias portuguesas e estrangeiras, quer no domínio do ensaio, quer da poesia.

Dedica-se à poesia, tendo três livros publicados e, regularmente, a teatro.

Tem peças publicadas e representadas em Portugal e no estrangeiro: França, Bélgica, Itália, Roménia, Alemanha. A sua peça Se Mentes (Wenn du lügst – Samen) foi escolhida para representar Portugal no Festival de Autores de Teatro na Bonner Biennale 94 – e posteriormente representada em Munique e em Roma.

Dona de vasta obra em vários campos, que poderá consultar no site de onde retirei a biografia.

Biografia retirada DAQUI

9 comentários:

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá amiga Elvira,

Excelente excolha, como já vem sendo habitual.

O Algarve e a apanha da conquilha não são novidade para mim, é uma faina que é só produtiva nas marés vazas...eu própria já apanhei algumas, o suficiente para uma refeição para dois.
Sabor divinal.

Esta poetisa fez uma descrição perfeita, linda, da vida desses apanhadores de conquilhas bem como uma analogia com a sua própria.

Parabéns
Abraço

pin gente disse...

a muita labuta
a crueza da vida
a partilha
a família


um abraço, elvira!
luísa

gaivota disse...

tudo se faz(ia) para ganhar a vida!
bom fim de semana
beijinhos

EDUARDO POISL disse...

Como sempre uma linda excolha.

“Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.”
Miguel de Unamuno

Desejo um lindo final de semana com muito amor e carinho
Abraços

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amiga Elvira,

Dentro de dias terei os livros, À Deriva e Sabor a Sal e a Mar, da Maria José Areal, para lhe enviar.

Só preciso que me mande a sua morada por e-mail, será uma oferta da autora pela sua gentileza na sua divulgação.

Um bom fim de semana e um abraço amigo,

Mare Liberum disse...

Esta eu conheço bem. Amiga da família, aluna do Liceu de Faro, é uma Pessoana de truz.
A apanha da conquilha, no Verão, com a maré vazia é uma tarefa que entusiasma.

Beijinhos

Bem-hajas!

Pelos caminhos da vida. disse...

Obrigada pela sua visita.

Volte sempre.

Mais uma mulher batalhadora,em prol de sua familia.

beijooo.

Sonia Schmorantz disse...

As fortes e corajosas mulheres das tuas escolhas, sempre muito bom ler!
beijos

Majo Dutra disse...

É realmente muito erudita, mas a poesia não é depósito de erros gramaticais.
O quarto verso está errado.
Deveria ser: "são os filhos, são as filhas"
Abraço