Banho (rural)
De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
Zila da Costa Mamede nasceu em Nova Palmeira, na Paraíba, no dia 10 de setembro de 1929. Ainda criança, passou a residir no interior do Rio Grande do Norte, onde moravam seus avós. Estudou os primeiros anos em Currais Novos e, mais tarde, em Natal. Entre 1955 e 56, fez o curso de Biblioteconomia, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e um curso de especialização nos Estados Unidos.
Ao retornar a Natal, organizou as principais bibliotecas da cidade, como a Biblioteca Central da UFRN (hoje Biblioteca Zila Mamede), e a Biblioteca Estadual Pública "Câmara Cascudo". Em sua produção intelectual encontram-se tanto trabalhos ligados à área da biblioteconomia, como da literatura.
Estreou com o livro Rosa de Pedra, que foi saudado efusivamente pela crítica. E Salinas, o segundo livro, recebeu o prêmio "Vânia Souto Carvalho", de 1958. Depois desse, a autora voltou-se para seu passado de menina sertaneja e as paisagens da infância, e construiu aquele que pode ser considerado seu melhor livro: Arado, publicado em 1959.
Os anos seguintes foram dedicados às pesquisas sobre as obras de Câmara Cascudo e de João Cabral de Melo Neto. Apenas em 1975 retoma à poesia e publica Exercício da palavra, que traz como novidade a temática urbana e a preocupação com estratégias da vanguarda, então utilizadas pela poesia concreta e o poema processo. Em 1978 publicou Navegos, contendo o conjunto de sua poesia conhecida mais um novo livro — Corpo a corpo.
Em 13 de dezembro de 1985, Zila Mamede sentiu-se mal e afogou-se, quando nadava no Rio Potengi, como costumava fazer quase diariamente.
(fonte:www.amulhernaliteratura.ufsc.br).
De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
Zila da Costa Mamede nasceu em Nova Palmeira, na Paraíba, no dia 10 de setembro de 1929. Ainda criança, passou a residir no interior do Rio Grande do Norte, onde moravam seus avós. Estudou os primeiros anos em Currais Novos e, mais tarde, em Natal. Entre 1955 e 56, fez o curso de Biblioteconomia, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e um curso de especialização nos Estados Unidos.
Ao retornar a Natal, organizou as principais bibliotecas da cidade, como a Biblioteca Central da UFRN (hoje Biblioteca Zila Mamede), e a Biblioteca Estadual Pública "Câmara Cascudo". Em sua produção intelectual encontram-se tanto trabalhos ligados à área da biblioteconomia, como da literatura.
Estreou com o livro Rosa de Pedra, que foi saudado efusivamente pela crítica. E Salinas, o segundo livro, recebeu o prêmio "Vânia Souto Carvalho", de 1958. Depois desse, a autora voltou-se para seu passado de menina sertaneja e as paisagens da infância, e construiu aquele que pode ser considerado seu melhor livro: Arado, publicado em 1959.
Os anos seguintes foram dedicados às pesquisas sobre as obras de Câmara Cascudo e de João Cabral de Melo Neto. Apenas em 1975 retoma à poesia e publica Exercício da palavra, que traz como novidade a temática urbana e a preocupação com estratégias da vanguarda, então utilizadas pela poesia concreta e o poema processo. Em 1978 publicou Navegos, contendo o conjunto de sua poesia conhecida mais um novo livro — Corpo a corpo.
Em 13 de dezembro de 1985, Zila Mamede sentiu-se mal e afogou-se, quando nadava no Rio Potengi, como costumava fazer quase diariamente.
(fonte:www.amulhernaliteratura.ufsc.br).
AOS AMIGOS, PEÇO DESCULPA PELA AUSÊNCIA, MEU PAI CONTINUA MAL NO HOSPITAL, E EU SEU TEMPO PARA VOS VISITAR. AGRADEÇO A VOSSA COMPREENSÃO, E DESEJO UM BOM FIM DE SEMANA
6 comentários:
Lindo poema! Mas hoje vim te desejar um bom final de semana, e que seu pai possa com a graça de Deus e recuperar-se logo. Perdi o meu a pouco tempo, só eu sei aqui dentro o quanto dói a saudade...
beijos menina
_________________________________
Um excelente poema!
Obrigada por traze-lo...
Beijos de luz e o meu carinho!!!
__________________________________
Sei que só as palavras não chegam mas de qulquer maneira deixo-te o meu sincero manifesto de coragem e perseverança numa altura complexa da tua vida - importa manter a fé e continuar a acreditar em Deus!!
um abraço muito - muito fraterno!!
teu amigo Heduardo
Elvira não me tinha apercebido que por aí estava tudo complicado.
Há fases da nossa vida que são tremendas.
Deixo aqui um grande abraço. Força!
Para refletir:
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
Não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo
de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
(William Shakespeare)
Faça dessa nova semana um novo início rumo à
felicidade.
abraços
*****
Querida amiga Elvira
Que Deus os proteja nesses momentos, dando-lhes força para superar as dificuldades.
Deixo meu abraço amigo e agradecimento por se lembrar de mim.
Boa semana!
*****
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