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domingo, 4 de maio de 2008

KÁTIA DRUMMOND



Neste dia da mãe, resolvi aqui postar um poema que sendo dedicado ao dia é contudo um poema diferente, daqueles a que estamos habituados. De uma escritora que muito me agrada, mostra uma realidade diferente, dura sim, porém real. Espero que gostem.

MAINHA


Quando eu era criança, ainda me lembro,
menina da rua, fugaz andorinha,
eu via os homens entrando e saindo.
Malditos ladrões. E perversos bandidos.
Querendo prazeres, todos mal vividos,
buscavam o corpo da minha mainha.
Na mesma alcova. Bem onde eu dormia,
sem cama e coberta. Deitada no chão.
No colo onde eu jamais me deitaria.
Na casa que eu pensava que era minha.

Alguns davam doces. E outros, brinquedos.
Pequenas bonecas vestidas de trapos.
E eu, curiosa, pensava comigo:
Por que tantos homens entrando e saindo?
O que é que eles fazem? Parecem farrapos!
Às vezes ficava quietinha, espiando.
Nas pontas dos pés. Infeliz bailarina.
Sem mesmo saber que ali, do outro lado,
mainha traçava pra mim minha sina.

Aquela mulher, já exausta da lida,
chorava baixinho pra ninguém ouvir.
E eu já crescida, menina perdida,
fui vendo em meu corpo o preço da vida.
Odiei os homens. Desejei partir.
Pensei em tirar a mainha da luta.
Mas ela me olhava e com raiva dizia,
gritando aos brados, no maior desdém:
"Se manda daqui. Vai, menina vadia.
Que filha de p*, é p* também."

Kátia Drummond



Kátia Drummond
Brasileira, radicada em Sintra, Portugal. Casada com o designer gráfico e artista plástico Cláudio Paulo. Mãe de Brisa Drummond (Publicitária/Escritora, na Suécia), de Sávio Drummond (Biólogo, Poeta, Músico/Baixista), e de André Bernard (Violonista, Arranjador, Compositor e Cantor).

Filha de artistas, Kátia Drummond descende do poeta Antônio de Castro Alves, dos escritores Ariovaldo Matos e Almir Matos, e do filósofo marxista Giocondo Gerbase Dias.

É socióloga, formada pela Universidade Federal da Bahia–UFBA. Morou em Bruxelas, Londres e Paris, onde estudou e trabalhou. PHD em “Ciências Sociais”. Especialista Sociologia Urbana. Dotoura em “Comunicação e Marketing”. Especialista em Planejamento e Estratégia em Marketing.

Foi pianista clássica, tendo passado pelo Instituto de Música da Bahia e pelo Seminário de Música da Bahia. Venceu vários festivais musicais, no Brasil e fora, com peças como: “Rancho Pra Quem Vem de Fora”, “Anjo-Àtoa”, "Encontro", "Paris em Mim” etc. Em Paris, estudou e cantou na Discophage/Rue des Écoles, em parceria com Marcelo, violonista e cantor do Quinteto Violado.

Obras Poéticas:

• “Lucidez Profana/”Poemas. Selo Editorial Letras da Bahia.
• “Exército de Anjos”/Poema. Selo Editorial Letras da Bahia.
• “Lotus Vermelho/Poemas”. Com apresentação do Lama Padma Samten. Alusão ao Budismo Tibetano do qual é seguidora.

Texto retirado da net. Quero fazer uma resalva ao local onde a escritora vive, que nuns sites aparece como sendo em Sintra e noutros indicam Salvador como local de residência. Bom Domingo a todos especialmente Às MÃES QUE ME VISITAM.

18 comentários:

Branca disse...

Fantástico poema Elvira!
Neste dia é lindo e sensível da sua parte lembrar estas mulheres que são muitas delas mães também.
Acabei de fazer agora o meu post para este dia, que já pensava fazer há muito, mesmo sem ser dia da mãe, mas que demorou porque me parece sempre pouco.
Desejo-lhe um óptimo dia para si.
Fique bem
Muitos beijinhos.

lua prateada disse...

Lindo mesmo Elvira, mas todos os dias deveriam ser assim ,pois somos mães e filhos também todos eles...
Não há medicamento mais adequado,precioso e eficaz para curar desgraças do que um amigo.
Nele nós encontramos, conforto quando estamos em dificuldade-
Com ele podemos partilhar a felicidade dos momentos de alegria.
Beijinho prateado com carinho e votos de um feliz domingo
SOL

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Amiga Elvira, belíssimo poema!
Fantástico mesmo... quantas vidas dariam para cantar em poema esta desdita de vida para muitas mulheres infelizmente...
Muito bem escolhido, Amiga!
Um grande beijo de enorme carinho,
Fernandinha

Maria Clarinda disse...

MARAVILHA!!!!!!
Obrigada por me dares a conhecer Kátia Drummond!
Um beijo grande!

Sonia Regly disse...

Elvira,
Realmente essa poesia é linda!! diferente de tudo oque estamos acostumadas. Parabéns pela escolha.Quando puder, retorne ao Compartilhando as letras, têm post novo, sua visita muito me alegra!!!

Isamar disse...

Muito comovente este poema. Excelente escolha. A vida tem tantas facetas! Beijinhos

João Videira Santos disse...

Um poema de palavras abertas. Crú e real. Gostei.

Fragmentos Betty Martins disse...

querida__________Elvira




excelente escolha





___________já tinha lido


Kátia Drummond_________e


adorei________a realidade nas suas palavras________...









beijO____C_____carinhO

pin gente disse...

tão real
gostei muito desta crueza
abraço

Jorge P. Guedes disse...

Belo poema de alguém que até aqui me era desconhecida.

Obrigado.

uUm abraço

São disse...

Que como mãe , também seja feliz, minha amiga!
Tudo de bom.

Nile e Richard disse...

Oi amiga.Sua poesia é linda.Tem um mimo do dia das mães para voce no meu blog.Espero que goste.bjtos.nile.

jorge esteves disse...

Siderado. Simplesmente, assim. Com a beleza deste poema. Que não conhecia, assim como a poetisa.
Afinal há coisas boas... no mês que há-de vir!...
(obrigado por aquela linda lenda)

Abraços!

Pena disse...

Sensacional Amiga Elvira:
Um poema sensível escrito com uma dor intensa e profunda.
Um sofrimento em rosto de menina ingénua e doce que vê sua "mainha" entregar o corpo ao acaso da vida, sem culpa, sem dó, sem piedade.
Entregue à vida que é a sua dorida existência.
Olhe, um poema real feito de casoos reais. Tantos!
Filha de mão sofrida, sofrida se torna.
Como pode Deus conceber isto À sua vista?
Enfim, casos da vida injusta e desencantada.
Gostei da forma como foi elaborado o poema real e óbviamente fruto do ganho-pão necessário e urgente, de qualquer forma ou feitio.
Admirável!
Beijinhos, amiga e Parabéns sinceros.
Sempre a respeitá-la e a estimá-la

pena

MUITO OBRIGADO pelas sensíveis palavras deixadas no meu "cantinho".
OBRIGADO sincero e sentido, amiga.

Menina do Rio disse...

Ola Elvira, respondendo a tua pergunta sobre não ter livro publicado; este é um sonho ainda pra mim. Aqui no Brasil para ser publicar um livro não é fácil e as editoras não se interessam por publicar poemas a não ser que seja de um autor já conceituado. Nós simples escrevedores de versos se quisermos temos que arcar com os altos custos de uma edição independente e no momento não posso me dar ao luxo; mas continuo sonhando. Já enviei meus escritos a uma editora em Portugal mas nunca me veio resposta e continuo tentando. Obrigada pelo interesse. Tem uma ótima noite e um domingo perfeito!

beijinhos

Heduardo Kiesse disse...

Beijinho amiga, passei em ti!

Edu

mundo azul disse...

São lindos os seus versos! Uma bela homenagem...Beijos e muita luz!
_ Zélia.

Sady Folch disse...

Belíssimo Elvira.
Assim como afirmei ao poema de Alda Lara, aqui, em dois momentos das vidas destas mulheres, a transcedência de seus limites e intimidades, as revelou prontas para o que a vida lhes apresentasse.
Neste caso, a jovem mãe pelos custos de uma filha em tristes pés de bailarina; e anos depois, a filha, ávida por mudar a vida de sua mainha.
Mulheres são assim mesmo...lutam e não se envergonham.
Tenho orgulho delas.
Sady