Naquela hora
Naquela hora todas as portas
se abriram e o teu corpo ganhou
o tamanho das palavras
que não quiseste dizer.
Havia o cheiro a alecrim e incenso
das procissões nos caminhos serranos.
Ouviram-se sinos nos campanários
distantes de aldeias distantes
em mapas ainda mais distantes.
Veio o cipreste e afirmou
ser irmão doutro lugar ao norte.
Era uma árvore perdida a reclamar
asilo como acontece nas histórias.
Nas vidraças podia ler-se o desenho
branco das máscaras de Veneza.
Se não fosse inconcebível,
um barco subiria as escadas
e tu, ainda de pé, com um menino
ao colo, embarcarias, sorrindo,
murmurando um cante do país ao sul.
Noutra hora, todas as portas voltaram
a fechar-se.
Biografia.
Licínia Quitério, nasceu em Mafra, em 30 de Janeiro de 1940.
Foi professora, tradutora, correspondente comercial.
Tem vários livros publicados, em prosa e poesia.
A autora tem ainda dois blogues. Aqui encontram um deles, o outro lá mesmo encontram o endereço.
Passem por lá, e vão ver que não se arrependem
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6 comentários:
Mais uma linda poesia trazida aqui! Valeu! bjs, chica
Muito bonito.
Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt
A auitora já conhecia, este poema não.
Beijinhos a ambas
Conheço a autora, apenas, de nome e já visualizei os blogues dela, creio, há tempos.
A Licínia Quitério escreve muito bem, morfológica e sintaticamente falando, usa rebuscadas figuras de estilo, porque assim o entende, tem certeza de punho e de palavras, que sabe colocar no sítio certo. No entanto, tenho de dizer, e é isso que sinto, que este poema não é de fácil interpretação, não estando, por isso, à "mão de semear" da compreensão dos que menos cultura académica possuem, mas os poetas e as poetisas escrevem o que lhes vai na alma e com uma finalidade, com um destino, e, por vezes, sem destino, mas que só eles sabem qual é.
Lendo os comentários, que antecedem o meu, as pessoas dizem que é bonito, pronto e ponto. Não quero com isto dizer que o não tenham entendido, mas "desembrulha-lo", não é fácil, é a minha opinião.
Pois é, Licínia "Naquela hora", o vento corria-lhe de feição e todas as portas se abriram, e naturalmente, que a felicidade e a confiança ganharam forma, e que forma! Tanto assim, que a natureza toda colaborou, até a mais distante, e os sinos fizeram-se ouvir, efusivamente.
Ah, cipreste! Que mal te fizeram a alegria e a uníssona harmonia? Embora te sentisses, fosses irmão dos outros, eras de outras paragens, portanto, estavas isolado, destemido e perdido, assim como acontece com os humanos. Não tiveste, não soubeste ter sentido de solidariedade. Não calculas como lamento!
Na mente, tudo se pode ler e ter, e caso não houvesse impossível inconcebível, uma caravela podia subir aquela escadaria e dar-te, homem ou mulher, boleia para a vida, mesmo levando tu a criança. Irias feliz e confiante, porque partirias para lugares onde o sol se faz sentir, mesmo de noite, pensavas tu.
"Meu amor", "meu" homem, com seu menino ao colo, sorrindo, enganaste-te, porque as portas têm ouvidos e fecharam-se todas, mais uma vez, para a mudança, para a felicidade e para a esperança.
Um dia, tudo será diferente!
Beijos para todos, Elvira!
Boa tarde, Elvira!
Adorei! É leve e tem sentimento. Palavras de saudade...
Vou voar lá no cantinho dela.
Abração esmagador e ótimo final de semana.
Lindo poema, não conhecia a poetisa.
Beijinhos
Maria
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