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terça-feira, 10 de junho de 2008
NATERCIA FREIRE
(Foto da net)
Os enjeitados
Carregando os caixões nos magros ombros
Enterrando na polpa das montanhas
Os tornozelos de aço,
Rasgando no ar fino agudas frestas
Caminham lentamente os enjeitados.
Escasseia-Ihes emprego nas florestas
Nas bancas da cidade revoluta
E transportam a morte com cuidado.
Os pais ocultam-se em locais limites.
Levam aos ombros mitos sem limites
Com seus nomes em cera desenhados.
Ao pôr do sol escutaram a chamada
Que vinha sempre errada.
E sentaram-se à mesa num lugar
Entre desconhecidos e estrangeiros.
Vinha um sopro de lar
De uma língua de tempos derradeiros.
Os silêncios depois cavaram vales.
As margens sepultaram os seus leitos.
Escalaram as montanhas sem vontade.
Fabricaram metralha no seu peito.
Pediram filhos a planetas mortos.
Dormiram com saudades mutiladas.
Beberam sonhos pelo mesmo copo.
Fugiram das cidades em partilha.
Deram as mãos. Sentaram-se a chorar
No choro de uma ilha.
Chove-lhes fogo em dias de criança.
Chove-lhes fel em dias ensombrados.
Jovem povo sem esperança
Desde o ventre da mãe, os enjeitados.
Ocupados no mapa das viagens,
Exaltados no tempo de ir a Marte.
Todos heróis, políticos e pajens
De Herodes e Medeias,
Abrem os pais as veias.
No ar, jorra em cadeias de cadência,
O sangue colectivo de uma ausência.
Natércia Freire
Nascida em Benavente (Santarém) em 1919, Natércia Freire deixou várias obras de poesia, entre as quais "Os Intrusos", pelo qual recebeu o Prémio Nacional de Poesia em 1971. "Rio Infindável" (1947) e "Anel de Sete Pedras" (1952), ambos galardoados com o Prémio Antero de Quental, e "Antologia Poética", editada pela Assírio & Alvim em 2001, fazem parte também da obra poética de Natércia Freire. Na prosa são conhecidos vários contos.A incursão no mundo da poesia aconteceu com a ajuda de José Osório de Oliveira, por intermédio de quem abandonou a composição musical. Editou o seu primeiro livro de poesia, "Castelos de sonho", em 1935, ao qual se seguiria "O meu caminho de luz". A colaboração com publicações periódicas surigiria três anos depois a partir de 1938 começou a participar em várias revistas e jornais. É já no final da década de 40 que inicia a colaboração com o jornal "Diário de Notícias". Na área do jornalismo, distinguiu-se ainda pela coordenação, entre 1954 e 1974, da Página de Artes e Letras daquele jornal, o que lhe valeu o reconhecimento junto de jornalistas e escritores portugueses. Aí organizou um espaço onde colaboraram artistas plásticos e escritores de todos os quadrantes, nacionais e estrangeiros.Natércia Freire assinava, desde os anos 40, uma rubrica na Emissora Nacional, exercendo, paralelamente, uma ampla actividade como conferencista. A partir de 1974 retirou-se da vida literária nacional, apenas marcando presença discreta em algumas publicações periódicas.Em 1991 e 1995 editou a sua obra poética completa com a chancela da Imprensa Nacional Casa da Moeda.
Biografia da net
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18 comentários:
muito bonito poema.
acho interessantíssimo esta ideia de publicares a nota biográfica das autoras, obrigada.
abraço
luísa
Tenho dois livros dela. Não sei se escreveu mais. Muito obrigada pela visita e pelo que volte. Postei 2 coisas num post só. Vá lá, preciso dos seus comentários.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
não há ponto depois de www
Um beijo,
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO
RS: GOSTO DO SEU BLOG. QUANDO ESTIVER CANSADA, VIREI AQUI PARA RELAXAR!
Oi minha boa amiga.
Aí está a pura realidade dessas crianças.
è triste.
Passei para lhe desejar uma semana com muita paz e amor em su coração.
Voltarei mais vezes.
Adorei o poema.
Obrigado por sua visita no meu cantinho. espero que tenhas gostado.
beijos amiga.
e mil estrelinhas para vc.
Um belíssimo poema em forma e conteúdo...O tema é triste...A foto é real e triste...
Beijos de luz e muita alegria no seu coração!
Olhamos para essas realidades
e parece irreal, sabemos que existe e que são os homens que dizem ajudar que segregam os seres, somos nós humanos que escravizamos os nossos irmãos
bj
Realidade tão triste e, por mais que se diga que se pode fazer algo...nada se faz...e que podemos nós?...
Passei desejando um lindo fim de semana e dizer-te...aquilo que afinal bem sabes ...
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas
ama as tuas rosas...
O resto é a sombra
de árvores alheias...
Beijinho prateado com carinho
SOL
SUBLIME!!!!
sem dúda!!!
JÁ COMENTEI AQUI QUE TENHO A OBRA COMPLETA DE NATÉRCIA FREIRE E A QUESE COMPLETA DE NATÁLIA CORREIA. É QUE A MINHA PÁTRIA LITERÁRIA É PORTUGUAL. NADA BEM ESTOU, PORTANTO ME RETIRO. POSTEI HJ SOBRE STARDUST, O MISTÉRIO DA ESTRELA E SOBRE A II PARTE DA DAMA E O UNICÓRNIO. VÁ LÁ E DEIXE O SEU COMENTÁRIO. SE AINDA NÃO PÔS COMENTÁRIO EM PARIS, EU TE AMO, APROVEITE A OCASIÃO.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
BEIJOS, CADA VEZ GOSTO MAIS DE VCS
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO
Magnifico o poema q aqui postaste e nos deixa a pensar... gostei do que li amiga.
Continua
Bjs
Nuno de Sousa
Parabéns, Elvira.
A conjugação da foto, do poema e da música é perfeita.
Bom domingo.
Amiga Elvira,
Voc~e faz uma excelente pesquiza, parabéns!!! Sempre excelentes textos, coisas lindas e profundas.Beijinhos e muita paz!!!!
Gostei de recordar Natércia Freire. A sua poesia é tão bonita e anda tão esquecida!
Beijinhos
palavras que marcam e que é fundamental ler com olhos de sentir
Que fantástico esse poema. Quanta sensibilidade, e tão atual!
Beijo.
é sempre bom encontrar lembranças de quem recorda os maiores...É o caso
Ola bom dia passei para te visitar e adorei.
voltarei
bjs naty
Elvira, que lindo poema. Forte quanto a vida destes tantos que se espalham pelo mundo.
Teremos um sarau no mês que vem, em que irei recitar um de meus poemas, no entanto, penso acrescentar a um destes teus, fazendo referência a ti e a tua página para os ouvintes.
O que acha de idèia ?
Abraços meus
Sady
necessario verificar:)
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