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terça-feira, 26 de agosto de 2008

GILKA MACHADO



foto da net

Lépida e leve


Lépida e leve
em teu labor que, de expressões à míngua,
O verso não descreve...
Lépida e leve,
guardas, ó língua, em seu labor,
gostos de afagos de sabor.


És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesmo acaricia,
que teu nome por ti roça, flexuosamente,
como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.


Dominadora do desejo humano,
estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!...
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa,
quando é de seu agrado.


Sol dos ouvidos, sabiá do tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!


— Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
— Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de
alucinação,
és o elástico da alma... Ó minha louca
língua, do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca...
— Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!...


Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me veste quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...


Língua-lâmina, língua-labareda,
língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...
Força inféria e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?...


Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...


Gilka da Costa de Melo Machado nasceu no Rio de Janeiro (RJ) no dia 12 de março de 1893. Casou-se com o poeta Rodolfo de Melo Machado em 1910. Teve dois filhos: Helio e Eros. O marido, Rodolfo, faleceu em 1923. Seu primeiro livro de poesia, “Cristais Partidos”, foi publicado em 1915. Em 1916 foi publicada sua conferência “A Revelação dos Perfumes", no Rio de Janeiro. Em 1917 publicou “Estados de Alma” e, em seguida, no ano de 1918, “Poesias, 1915/1917”, “Mulher Nua”, em 1922, “O Grande Amor”, “Meu Glorioso Pecado”, em 1928, e “Carne e Alma”, em 1931. Em 1932, foi publicada em Cochabamba, Bolívia, a antologia “Sonetos y Poemas de Gilka Machado”, com prefácio Antonio Capdeville. No ano seguinte, a escritora foi eleita "a maior poetisa do Brasil", por concurso da revista "O Malho", do Rio de Janeiro. “Sublimação” foi publicada em 1938, “Meu Rosto” em 1947, “Velha Poesia” em 1968 e suas “Poesias Completas” editadas em 1978. Em 1979, foi agraciada com o prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras. Nesse mesmo ano a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro prestou homenagem à mulher brasileira na pessoa da poeta. Escreveu versos, sendo simbolista, considerados escandalosos no começo do século XX, por seu marcante erotismo. Faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 11 de dezembro de 1980.

Biografia retirada da net.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

ANA HATHERLY


Auto-retrato

Este que vês, de cores desprovido,
o meu retrato sem primores é
e dos falsos temores já despido
em sua luz oculta põe a fé.

Do oculto sentido dolorido,
este que vês, lúcido espelho é
e do passado o grito reduzido,
o estrago oculto pela mão da fé.

Oculto nele e nele convertido
do tempo ido escusa o cruel trato,
que o tempo em tudo apaga o sentido;

E do meu sonho transformado em acto,
do engano do mundo já despido,
este que vês, é o meu retrato.

Ana Hatherly




Biografia

Poeta, romancista, ensaísta e tradutora, Ana Hatherly iniciou a carreira literária em 1958.

Tendo sido um dos principais elementos do grupo de Poesia Experimental nos anos 60 e 70, o seu trabalho está representado nas mais importantes Antologias e Histórias da Literatura Contemporânea de Portugal, Brasil, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, Suécia, Holanda, e República Checa.

É também autora de várias traduções para português de obras inglesas, francesas, italianas e espanholas.

Durante as últimas duas décadas, tem-se dedicado ao estudo da literatura portuguesa e espanhola do "Siglo d'Oro", tendo publicado vários ensaios e comunicações sobre o tema em várias das mais conceituadas publicações literárias de Portugal e do estrangeiro.

Licenciada pela Universidade de Lisboa e Doutorada em Literaturas Hispânicas pela Universidade de Berkeley (U.S.A.), é actualmente Professora Catedrática de Literatura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa e Presidente do Instituto de Estudos Portugueses da mesma Universidade. É ainda membro da Direcção do PEN Club, de que já foi Presidente.

Referenciada, a nível poético, como um dos nomes mais importantes das vanguardas portuguesas da segunda metade do século, a sua poesia reúne fortes tendências barroquizantes e visuais que a têm já levado a um apagamento de fronteiras entre expressão poética e intervenção plástica. É esse o caso, por exemplo, de Mapas da Imaginação e da Memória (1973), bem como das várias exposições que incluem desenho, pintura e colagem, realizadas em galerias e centros de exposições, como o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Museu do Chiado e Fundação da Casa de Serralves, para além das participações na Bienal de Veneza e Bienal de S. Paulo (Brasil).

Obra

Poesia

Um Ritmo Perdido. Lisboa: 1958.
As Aparências. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural, 1959.
A Dama e o Cavaleiro. Lisboa: Guimarães, 1960.
Sigma. Lisboa: 1965.
Anagramático. Lisboa: Moraes, 1970.
O Escritor. Lisboa: Moraes, 1975.
Poesia (1958-1978). Lisboa: Moraes, 1979.
O Cisne Intacto. Porto: Limiar, 1983.
A Cidade das Palavras. Lisboa: Quetzal, 1988.
Volúpsia. Lisboa: Quimera, 1994.
351 Tisanas. Lisboa: Quimera, 1997.
A Idade da Escrita (Lisboa, Edições Tema, 1998).
Variações (no prelo).

Ficção


O Mestre. Lisboa: Arcádia, 1963; 2ª ed., Moraes, 1976; 3ª ed,. Quimera, 1995.
Crónicas, Anacrónicas, Quase-Tisanas e outras Neo-Prosas. Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1977.
Anacrusa. Lisboa: Edições Engrenagem, 1983.

Ensaio

O Espaço Crítico. Lisboa: Caminho, 1979.
PO.EX - Poesia Experimental Portuguesa (com E. M. de Mello e Castro). Lisboa: Moraes, 1981.
A Experiência do Prodígio - Bases Teóricas e Antologia de Textos-Visuais Portugueses dos séculos XVII e XVIII. Lisboa:
I.N.C.M., 1983.
Defesa e Condenação da Manice. Lisboa: Quimera, 1989.
Poemas em Língua de Preto dos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Quimera, 1990.
Elogio da Pintura (com Luís Moura Sobral). Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, 1991.
A Preciosa, de Sóror Maria do Céu. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1991.
Lampadário de Cristal, de Frei Jerónimo Baía. Lisboa: Editorial Comunicação, 1991.
O Desafio Venturoso, de António Barbosa Bacelar. Lisboa: Assírio & Alvim, 1991.
O Triunfo do Rosário, de Sóror Maria do Céu. Lisboa: Quimera, 1992.
A Casa das Musas. Lisboa: Estampa, 1995.
O Ladrão Cristalino. Lisboa: Edições Cosmos, 1997.


fonte: Ministério da Cultura e Instituto Português do Livro e da Leitura

terça-feira, 5 de agosto de 2008

MARIA ALEXANDRE DÁSKALOS


"Onde cairá o orvalho se as pedras perderam dono"

Onde cairá o orvalho se as pedras perderam dono
e história
e só as coisas torpes e destruídas
cobriram os campos e tornaram cinza o verde?

Oiço exércitos do norte do sul e do leste
fantasmas lançado o manto das trevas
os rostos exilando-se de si mesmos.
Oiço os exércitos e todo e qualquer som abafarem.
- Não ouves a chuva lá fora, a voz de uma mulher,
o choro de uma criança?
Oiço os exércitos, oiço
os exércitos.

Quero reconstruir tudo - alguém disse
e ouvimos cair as árvores.
E vimos a terra coberta de acácias
e as acácias eram sangue.

Estamos à beira de um caminho
- que caminho é este?
Inventam de novo o vôo dos
pássaros.
Aqui já se ouviu o botão da rosa a desabrochar.

Maria Alexandre Dáskalos

Biografia

Poetisa angolana, Maria Alexandre Dáskalos nasceu em 1957, em Angola, na hoje martirizada cidade do Huambo.
Depois de ter frequentado o Colégio Ateniense e o de São José de Cluny, licenciou-se na área de Letras.
Filha do poeta Alexandre Dáskalos e casada com Arlindo Barbeitos, outro grande nome da poesia angolana, Maria Alexandre Dáskalos é, hoje, ao lado de Ana Paula Tavares, Ana Santana, Lisa Castel, Amélia Dalomba, entre outras, uma das vozes femininas com reconhecido prestígio nos meios literários.
Integra, como muitos outros seus contemporâneos, a "geração das incertezas".
A poesia da autora é caracterizada pela manifestação angustiada dos desejos do sujeito poético, cuja concretização tem sido obstaculizada por uma permanente situação de guerra. Paixões e sonhos, por vezes metaforizados pela liberdade da andorinha, a um tempo vividos sem mágoas e sem constrangimentos, "rota das andorinhas ", são agora, enclausurados, "rotas históricas da opressão ", e tema nuclear das novas vozes líricas dos anos 90: "(...) Esporear o tempo e percorrer veloz o caminho que está vedado das/extensas estações dominadas pela ilusão e o sonho.//...)Chegar à praia e saciar-me do azul do mar. "
Inconformada com a realidade vivida no seu país, após a Independência, Maria Alexandre Dáskalos projecta um "eu lírico" feminino que, consciente dos seus direitos de ser humano, reivindica o de se constituir como mulher na sua totalidade, não aceitando a postura passiva a que esta é sujeita no acto de amor. Por isso, contendo uma forte componente sensual, a sua poiesis é um grito de revolta e de desejo de liberdade, onde o Mar aparece metaforicamente como o espaço da liberdade, num tempo pretérito de que tem saudades e como espaço repressivo, num tempo actual: "(...) A memória dos nossos corpos/Perde-se nas águas./E as nossas palavras/ desfazem-se em círculos./Perdemo-nos quando olhamos o rio./Saudade de chegar ao mar. ".
Diversificando os estilos e até os géneros, a autora contempla-nos com uma grande variedade formal, que vai desde a poesia em prosa aos textos profundamente sintéticos de que é exemplo o poema "E agora só me resta".
Harmoniosa e fonte de melodia, a sua obra permite criar extraordinários momentos de poesia declamada.
Figurando em algumas antologias poéticas com reconhecimento, escreveu os seguintes livros: O Jardim das Delícias (1991) da editora angolana Ler e Escrever; Do Tempo Suspenso (1998) da Editorial Caminho e Lágrimas e Laranjas .


Biografia e foto retiradas da net


Muito obrigado a todos os que se têm interessado pela minha saúde. Continuo a recuperar da cirurgia.