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terça-feira, 3 de junho de 2008

NATÁLIA CORREIA


foto da net

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia

Natália de Oliveira Correia nasceu na ilha de São Miguel, Açores, em 13/09/1923 e morreu em Lisboa em 16/03/1993. Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou-se como poetisa e como política, tendo sido eleita deputada pelo Partido Socialista. Obras poéticas: Rio de Nuvens (1947), Poemas (1955), Dimensão Encontrada (1957), Passaporte (1958), Comunicação (1959), Cântico do País Imerso (1961), O Vinho e a Lira (1966), Mátria (1968), As Maçãs de Orestes (1970), Mosca Iluminada (1972), O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (1973), Poemas a Rebate (1975), Epístola aos Iamitas (1976), O Dilúvio e a Pomba (1979), Sonetos Românticos (1990), O Armistício (1985), O Sol das Noites e o Luar nos Dias (1993), Memória da Sombra (1994, com fotos de António Matos). Ficção: Anoiteceu no Bairro (1946), A Madona (1968), A Ilha de Circe (1983). Teatro: O Progresso de Édipo (1957), O Homúnculo (1965), O Encoberto (1969), Erros meus, má fortuna, amor ardente (1981), A Pécora (1983). Ensaio: Poesia de arte e realismo poético (1958), Uma estátua para Herodes (1974). Obras várias: Descobri que era Europeia (1951 – viagens), Não Percas a Rosa (1978 – diário), A questão académica de 1907 (1962), Antologia da Poesia Erótica e Satírica (1966), Cantares Galego-Portugueses (1970), Trovas de D. Dinis (1970), A Mulher (1973), O Surrealismo na Poesia Portuguesa (1973), Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco (1982), A Ilha de São Nunca (1982).
biografia da net

11 comentários:

Anónimo disse...

Excelente homenagem

Deusa Odoyá disse...

oi minha nova amiga natália correia.

Muito bela essa homenagem e um lindo texto também.

Voltarei sempre.
Beijos da sua nova amiga.

Regina Coeli.

Te aguardo no meu cantinho.

Fragmentos Betty Martins disse...

querida______Elvira




"NATÁLIA CORREIA"




.uma

GRANDE SENHORA



_____sou uma frande admiradora da sua escrita________e






ideias______...









beijO_______C______carinhO

lua prateada disse...

Linda homenagem amiga...

Na brisa suave do vento
E, tudo o que dele emana,
Passei atravez do tempo
Deixando lindo fim de semana.
Beijinho prateado com carinho

SOL

Nilson Barcelli disse...

Este poema da Natália é magnífico.
Cantado pelo José Mário Branco (creio eu) é uma delícia.

Bom fim de semana,
Beijinhos

Menina do Rio disse...

É lindo, Elvira! Não conhecia
Deixo-te o meu carinho; obrigada pelas palavras e que tu tenhas um ótimo final de semama.
Quanto as receitas, na verdade não sou muito chegada a cozinha não, mas de vez em quando faço uma visita às panelas, rs...

Fica bem

scaramouche disse...

esse poema é divino.

scaramouche.

Sandra Fonseca disse...

Belo posta esse teu. Adoro ler poetas que ainda não conheço, como essa excelente poetisa que você nos trouxe.
Beijo da amiga,
Sandra.

RENATA CORDEIRO disse...

Adoro a Natália Correia, que já se foi, uma pena. Tenho as suas poesias completas e um livro de poesia erótica que ela organizou. Adoro literatura portuguesa, mas na situação em que estou não dá para pensar em leitura... Desculpe-me, mas vou pedir para vc ir ao meu blog, pois estou lá publicando resenhas de filmes, que a editora da USP vai publicar. Para tanto, preciso dos comentários dos leitores. Você faria isso por mim? Morro de vergonha de pedir-lhe, não pediria em situação normal, mas será o meu ganha-pão, pois estou doente, incapacitada de trabalhar.
Conto com vc:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
não há ponto depois de www
Faça um comentário na resenha do filme Fanny e Alexandre.
Mil beijos,
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO

pin gente disse...

é muito lindo
a poesia de natália correia tem muita força... "come-se verdadeiramente"

beijo

oasis dossonhos disse...

Querida amiga
Apenas esta correcção:
Natália Correia "Foi deputada à Assembleia da República pelo P.S.D. (I e II Legislaturas)e pelo P.R.D. na V Legislatura" Pesquisado em: movimentum.blogs.sapo.pt/430.html?thread=85166 - 40k
Parabéns pela selecção destes poetas.
Abraço
Luís Filipe Maçarico